terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Soneto a quatro mãos

Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.

Este Soneto a quatro mãos foi composto por Vinícius de Moraes e Paulo Mendes Campos em 12 de agosto de 1945. Consta da antologia do Poetinha chamada Jardim noturno — Poemas inéditos, publicada pela Companhia das Letras em 2001.
Nada como iniciar um novo ano com poesia.

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