terça-feira, 30 de setembro de 2008

Não põe a mão!

Desde hoje e até o próximo dia 7, a polícia não pode mais prender nenhum cidadão brasileiro, exceto nas hipóteses de flagrante delito, execução de sentença condenatória por crime inafiançável e violação de salvo-conduto anteriormente concedido, previsto na própria legislação eleitoral. Essa moleza é uma exigência da Lei n. 9.504, de 1997, cognominada "Lei de Eleições". Para assegurar o livre exercício do direito de voto no próximo domingo.
Não abuse. O clima eleitoral leva a uma presença mais significativa da polícia na rua, sobretudo em um Estado como o Pará, em que as coisas são resolvidas a bala, golpes de terçado e cabo de bandeiras, dentre outras armas disponíveis.

Doe leite!

Amanhã, 1º de outubro, é o Dia Nacional de Doação de Leite Humano. Quem está engajadíssima na campanha é a atriz Camila Pitanga, fazendo marketing social, sem cachê, em companhia de sua filha Antônia, nesta belíssima criação publicitária:


Enquanto isso, lá em casa, antes de cada mamada é feita a extração, de acordo com as regras de procedimento e higiene ensinadas na Santa Casa de Misericórdia. Quando o frasco estiver cheio, a doação se consumará e algumas crianças poderão usufruir do leitinho da Júlia. Mais tarde diremos a ela o valor desse gesto.

O Brasil de verdade

Para todos os candidatos nas eleições do próximo domingo e para todos os que se pretendem minimamente cidadãos, assista clicando aqui.

1812


Esta é a postagem de número 1812, que me remete de imediato a uma das minhas composições prediletas, justamente "1812", de Pyotr Ilych Tchaikowsky. A grandiloquente composição sinfônica é a comemoração do músico à vitória dos russos sobre os franceses, na invasão da Rússia naquele ano, quando Napoleão Bonaparte acabou humilhado, após cair no conto da terra arrasada, tática militar que consiste em arrasar cidades inteiras para criar melhores condições no campo de batalha. E, como todos sabemos, naquele ano o grade heroi foi o "General Inverno".
Sempre achei de uma mordacidade incrível ele ter incluído, em sua peça, a mais famosa sequência de La Marseillaise, o hino nacional francês.
A obra é simplesmente maravilhosa e encanta, sobretudo, pelos tiros de canhão e pelos sinos, na parte final da celebérrima abertura, que parece não querer terminar, como se a comemoração fosse interminável.
Quem quiser saber mais sobre "1812", clique aqui. Para saber mais sobre a curiosa vida do músico, aqui. E quem quiser ver a peça executada no YouTube, aqui.

Se fosse só a inversão...

A coluna do jornalista Mauro Bonna, no Diário do Pará de hoje, dá uma espicaçadazinha num certo arquiteto endeusado, responsável pelo projeto da Estação das Docas (talvez por ele ser atualmente candidato a vice-prefeito). Afirma que a inversão no sentido dos acessos daquele complexo é uma medida racional, em que qualquer candidato ao vestibular de Arquitetura já teria pensado.*
Eu não pretendo cursar Arquitetura, mas creio que até uma ameba seria capaz de perceber que, com a inversão, os terríveis engarrafamentos que se formam para entrar na Estação pelo portão da chamada "Escadinha" acabarão. E mesmo que se transfiram para o portão em frente à Alfândega, ali a pista é mais larga e haverá melhores condições de o tráfego fluir. O cuidado a ser tomado é com a saída dos carros, para evitar acidentes no cruzamento da Boulevard, para acessar a Presidente Vargas. Creio que também posso afirmar que, se os tucanos ainda estivessem no poder, tal inversão não seria feita, pois seria um reconhecimento de que um ser infalível falhou.
Estive na Estação anteontem e pude observar a sinalização horizontal já instalada, com linha de bordo, setas indicativas de direção e demarcação das vagas (esta última, uma medida inútil, porque os retardados mentais que estacionam torto continuarão ocupando duas vagas e dando uma banana para quem chegar depois). A nova organização criou a possibilidade de um retorno dentro do estacionamento, o que é muito bom, pois antes só havia um sentido possível de movimentação. Por fim, se o emissor do tíquete começar a funcionar, já será um avanço, pois aquela máquina esteve quebrada em 99% das vezes que estive ali, em todos esses anos.
Mas se tudo fosse uma questão de inversão do tráfego, seria lucro. Domingo senti na pele algo de que já sabia: o iluminado que projetou aquele espaço não o dotou de um único fraldário sequer, apesar das grandes dimensões do complexo. Até parece que os endinheirados a que se destina o empreendimento não têm filhos. Precisando de um cantinho para trocar nossa filha, tivemos que abordar um segurança, que se comunicou por rádio com alguém e, após muitos minutos, fomos autorizados a ir a uma minúscula sala de primeiros socorros. Resolveu nosso problema mas, convenhamos, não dava para arrumar um espacinho decente para crianças? Aos finais de semana, é impossível contar o número delas ali e nem assim elas merecem um pouco de respeito?
É uma questão de prioridades, certamente.

Atualizado em 5.10.2008, às 20h56:
A bronca do colunista com o arquiteto deve ser grande, mesmo. Ele voltou à carga hoje, com esta: "Corrigindo um infantil erro do projeto original, amanhã comecará a funcionar a inversão do estacionamento da Estação."

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Confronto empresa vs. universitários

Esta mensagem me foi encaminhada pela querida Marcela Bouth, aluna que tem a paciência de voltar sempre ao blog.
Como tudo que nos chega pela internet, precisamos duvidar da veracidade, como ela mesma o fez. Aliás, considerando a última parte, deduzo que não é real, pois não creio que uma empresa se expressasse nesses termos, inclusive desqualificando uma categoria profissional de que se utiliza. Contudo, sendo verdade ou não, podemos tirar conclusões interessantes. Afinal, o comportamento apresentado pelos universitários é muito comum na internet, como aqui no blog, quando alguém se sente contrariado. Coisa de gente que precisa se tratar. E para quem gosta de Administração, quem sabe dê alguma dica.

AVISOS IMPORTANTES!
1. A mensagem está reproduzida como recebi, com todos os erros e alusão a nomes de empresas reais, em relação às quais não faço qualquer comentário.
2. Para alguma eventual alma sensível que esteja lendo esta postagem: o texto abaixo contém palavras de baixo calão. Se isso afeta sua suscetibilidade, não prossiga.

TCC (Trabalho de Conclusão de Curso)
Pedido dos Alunos do Mackenzie ao Café Pilão:
Prezados Srs., gostaria de verificar a possibilidade da realização de uma entrevista com o responsável pela Área de Marketing a respeito do mercado de café tipo exportação no Brasil. Eu e meus colegas somos alunos do curso de Administração/Comércio Exterior da Universidade Mackenzie e temos como tema do trabalho de conclusão de curso a influência do selo 'tipo exportação' no consumo de café no Brasil. A idéia é estudarmos os efeitos do produto exportável no mercado doméstico e por isso selecionamos profissionais do mercado de café cuja opinião nos seria de algum valor. A entrevista seria agendada conforme a disponibilidade da sua empresa e não levaria mais do que 1h. Aguardo um retorno, e desde já agradeço.


Resposta do Café Pilão:
Agradecemos o seu contato e o seu interesse no nosso Café Pilão. Informamos que nós, do Café Pilão, possuíamos uma política para divulgação das informações sobre os nossos produtos e sobre a nossa empresa. Desta forma, disponibilizamos o site para que o estudante tenha acesso às informações sobre a marca do produto e a empresa possíveis de serem divulgadas. Você poderá acessar nossa página pelo endereço: http://www.cafepilao.com.br
Esperamos que você possa apreciar o site do Café Pilão, pois ele foi especialmente desenvolvido com todo carinho para você! Mais uma vez agradecemos o seu contato e colocamos o Serviço de Atendimento ao Consumidor a sua disposição.
Um abraço, Gledes de Souza
Serviço de Atendimento ao Consumidor.


Réplica dos alunos:
Prezado Sr. Gledes de Souza, somos alunos do último semestre do curso de Administração/COMEX da Universidade Mackenzie. Embora o nosso curso seja meia-boca, Vsa. seja meia-boca e essa água suja que vocês chamam de café seja meia-boca, nós não o somos e a nossa paciência se esgotou. Como Vsa. não deve saber o que é stress, pois a sua existência medíocre não prevê a transposição de limites, prazos, etc, eu gostaria de, em poucas linhas, escrever que é muito foda ralarmos para pagar a facu, mantermos nossos empregos, tentarmos minimamente concluir os trabalhos que sempre deixamos atrasar e ainda termos que aturar respostas imbecis como a que Vsa. nos mandou.
Para tentar fazê-lo perceber o quão estúpida foi a sua atitude, segue um silogismo bem didático, com a seqüência de raciocínio que o seu cérebro de amendoim deveria ter feito:
1. A minha mensagem chegou por meio do site do Café Pilão, portanto eu tenho acesso à Internet
2. A mensagem foi escrita, logo eu sei escrever
3. Se eu sei escrever, muito provavelmente eu saiba ler
4. Se eu sei ler, tenho acesso à Internet e acessei o site do Café Pilão p/ escrever a mensagem, eu vi o que havia escrito lá
5. Se eu me dei ao trabalho de escrever uma merda de mensagem para uma banca de idiotas do serviço de atendimento, é porque eu preciso de algo ALÉM do que está no site. Ficou claro?
Portanto, meu amigo, eu penso sinceramente que pessoas como Vsa. deveriam ser esterilizadas ao nascer, pois assim pouparíamos as futuras gerações do convívio desgastante que hoje somos obrigados a manter, em nome dos direitos humanos e da civilidade.
Por fim, segue um conselho e um pedido. O conselho é que Vsa. se mate o mais rápido possível, e o pedido é que, antes de se matar, você vá tomar no CÚ.


Tréplica do Diretor de Marketing do Café Pilão
Prezados Formandos: Como vocês já devem ter percebido, cometeram vários erros na sua solicitação, imperdoáveis em alunos que estão saindo dos bancos de uma universidade para o mercado de trabalho.
Erro 1* Vocês tentaram estabelecer contato com uma grande empresa usando o canal de comunicação errado, ou seja, o SAC, Serviço de Atendimento ao Consumidor. Se vocês já tivessem recebido a graça de um estágio numa empresa medianamente organizada, este fato, além de transformá-los em alvo de piada, jamais lhes renderia um emprego na alta administração, nem menos no telemarketing que é onde as empresas atendem idiotas iguais a vocês.
Erro 2* Vocês também revelaram grande amadorismo em fazer este tipo de contato por e-mail, como se em alguma empresa houvesse profissionais prontos para responder pedidos de filhinhos de papai que deixam os seus trabalhos de aula para a última hora, porque ficam fumando maconha, correndo gatinhas e torrando a grana da família nos botecos da vida. Existe um equipamento chamado telefone, que é atendido por uma profissional chamada telefonista. Aqui na Pilão, casualmente, a telefonista é uma diplomada em Administração pela Mackenzie, com ênfase em Comércio Exterior, que, por suas raízes, certamente abriria as portas para vocês.
Erro 3* O trabalho proposto por vocês é de uma inutilidade espantosa, uma prova de total incompetência para quem está obtendo um diploma de bacharel em administração. Na verdade, é uma pesquisa estúpida e imbecil, pois utiliza uma metodologia completamente errada - 'entrevistas com profissionais do café' para 'estudar os efeitos do produto exportável no mercado doméstico'. Garotos, este tema já foi pesquisado há 10 anos atrás e não tem mais a mínima importância depois que Collor de Mello abriu as fronteiras do Brasil. Naquele tempo, aliás, os jovens, além de estudiosos, também eram politizados. Vocês já ouviram falar dos 'caras pintadas' ou acham que isso é apenas um apelido para palhaços como vocês?
Espero, com esta resposta, estar contribuindo para a formação de vocês. Mas, se esta resposta não lhes servir como uma pequena lição, fiquem tranqüilos. Entrem novamente em nosso site http://www.cafepilao.com.br e conheçam os nossos projetos sociais, destinados a recuperar jovens drogados, a fazer inclusão digital (ensina inclusive a usar a internet) e a tratar problemas sexuais em jovens estudantes.
Ah, antes que esqueça, abriu uma oportunidade de estágio para formandos em Comércio Exterior aqui na empresa: na Namíbia. Sabemos que é no cú do mundo, mas como vocês merecem tomar no cú, é um bom lugar.
Atenciosamente.
Jairo Soares Diretor de Marketing

Presença maciça

A frequência escolar é a mais elementar obrigação do aluno. Uma vez que o curso é presencial, o aluno tem que estar em sala de aula e ponto final. Caso se ausente de modo recorrente, é justo que reprove na disciplina, mesmo que, eventualmente, suas notas permitissem uma aprovação — em que pese isso indicar um problema nos métodos avaliativos do professor.
Seguindo a ordem institucional, eu verifico a frequência de meus alunos religiosamente. Registro tudo e depois, quem quiser, que vá se entender com a coordenação. Já tive muitos e sérios problemas com isso, mas há alguns anos um nível de maior seriedade do aluno (suponho que seja isso) e um reforço da ordem institucional têm permitido maior tranquilidade.
Por outro lado, também fui aluno e sei: uma aula maçante ninguém merece. Se o professor não se faz atrativo, não pode queixar-se de não ser exatamente bem vindo. Daí que me esforço para que minhas aulas tenham não apenas um conteúdo à altura das necessidades acadêmicas, mas sejam também agradáveis, notadamente no plano relacional. Que permitam aos alunos viver um pouco de educação lúdica, se posso dizer isso. Nada que chegue ao estilo Pachecão, claro, porque aí já seria ir longe demais. Não tenho talento nem disposição para tentar uma carreira performática na universidade, nem tenho por objetivo fazer o aluno decorar macetes, e sim para refletir sobre uma ciência, mais do que para assimilar regras.
Neste semestre letivo, tenho três turmas novas da mesma disciplina, Direito Penal I — o começo de nossa trajetória de dois anos. Começar é sempre complicado. Temos que buscar caminhos para acertar a mão. Até aqui (antes das provas), estar nessas turmas tem sido gratificante. Falo sobre isso numa outra oportunidade, porque o assunto agora é frequência.
Eu estava agora mesmo fazendo uns lançamentos e observei que, salvo um ou outro cometa, a assiduidade dos discentes neste período tem sido ótima, particularmente na minha turma da tarde, a DI2TA. Tanto que merece até registro. Corre uma mística de que as turmas da noite geralmente são melhores e, em parte, isso se atribui a um maior número de alunos mais velhos e já sem tempo a perder com futilidades. Pode ser, na maioria dos casos. Mas esta turma vespertina a que me referi tem-se destacado não apenas pela assiduidade, mas pela participação nas aulas, pela curiosidade útil, pela boa contribuição ao desenvolvimento do raciocínio. Só são muito barulhentos, sobretudo às quintas-feiras. O motivo, não me perguntem.
Se algum aluno da DI2TA passar por aqui, saiba que a turma ganhou um elogio (e uma chamadinha, claro). O importante é estimular o que é bom e ver essa garotada crescer no curso, como é o desejo de nossa equipe.

Um avozinho perfeito

Ele provavelmente se assustaria em ser classificado assim, mas Ariano Suassuna é um pop star da Feira do Livro. No ano passado, tive o privilégio de vê-lo, ouvi-lo, colher um autógrafo e tirar uma foto. Lamento não ter sido possível este ano, mas aposto que foi um arraso, como sempre. Nada como um homem inteligentíssimo, cuja idade lhe permite falar de tudo. E o povo simplesmente adora.
Transcrevo trecho de sua preleção, comovente e forte, consoante publicado hoje em O Liberal, matéria de Carolina Menezes (foto da publicação online):


"(...) Fui criado, formado e deformado no Brasil. Temos que achar os problemas que existem no Brasil real, o Brasil de verdade. Educação não é o principal problema que nós temos, é a miséria, isso eu aprendi com a minha experiência de vida. Aos sete anos de idade, fui alfabetizado em casa, porque naquela época a gente não ia pra escola aprender a ler, já entrava sabendo. Minha mãe e uma tia me alfabetizaram. Na escola havia três meninos que eram constantemente ridicularizados. Menino, gente, é inocente, não é bobo, e por ser tão inocente faz cada crueldade sem sentir... Eu era tão ruim... (a platéia vai às gargalhadas)! Agora que eu estou melhorando um pouco. Pra vocês verem, chegava novato na escola, a primeira coisa que a gente fazia era arrumar um apelido pra ele, daqueles que te arrebenta pro resto da vida! E a gente tinha uma brincadeira, que eu não sei se vocês têm aqui, que se chamava garrafão. Aí, a gente chamava o novato pra brincar, e de propósito, não explicava direito as regras. Quando ele errava, todo mundo ia bater nele! Um dia entraram três irmãos pra estudar lá, Osório, Pedro e David. Maus alunos, os piores da escola. Com essa hostilidade toda, ninguém chamava eles pra brincar no recreio e eles ficavam num paredão, encostados, olhando. Minha mãe me dava um pão aberto no meio com manteiga, todo dia, pra eu levar. Um dia, na hora do recreio, eu peguei o pão pra comer e vi o Osório olhando. Senti algo que me fez perguntar se ele queria um pedaço. Ele disse que sim e eu dei a metade. Pois ele chamou os dois irmãos e dividiu em três o pedaço que eu dei pra ele. Dali em diante, todo dia que fazia aquilo. Se eu contasse à minha mãe, ela me dava uns tapas ou me daria mais três pães pra eu levar, não sei. Anos depois, eu reencontrei Pedro e ele me contou que aquele pão que eu dava pra eles era o café da manhã daqueles irmãos, gente. Eles vinham da zona rural todo dia sem nada na barriga. Como podiam aproveitar as aulas? Podia colocar ali o melhor educador do mundo que não ia dar jeito. A nós, compete lembrar desse problema, porque tem gente que não quer dar atenção. Hoje em dia, 18,4% da população brasileira vive na miséria, naquela linha que chamam de abaixo da pobreza. Antes do bolsa-família, eram mais de 34%, e ainda tem gente que fala mal do bolsa-família (platéia o interrompe com aplausos). Eu digo, a educação está em segundo plano dentro dos nossos problemas, a miséria é o primeiro. Tô falando isso porque comi três vezes só hoje, né? (...)".

Testes neurológicos

Afanei do blog Agonia ou Êxtase, que por sua vez afanou de alguém. Achei muito interessante e, felizmente, cumpri os três testes com rapidez (demorei uns cinco segundos mais só no primeiro), o que confirma minha acuidade visual e deve me afastar do Alzheimer, pelo menos por enquanto...
Tente aí:

Encontre o C:
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOCOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO


Já encontrou o C? Então, veja o 6:
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9999999999999999999999999999999999999999999999999999999999999999999
9999999999999999999999999999999999999999999999999999999999999999999


Agora ache o N:
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMNMMMM
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM


Foi bom o seu resultado?

Carolina de Joaquim

Após 35 anos de vida conjugal e aos 69 de idade, morre Carolina Augusta Xavier de Novaes, deixando seu marido arrasado. Imerso em sua dor, ele entretanto continua a ser quem era: Joaquim Maria Machado de Assis (cujo centenário de morte se comemora hoje) e dá vazão a sua solitude escrevendo um soneto de despedida, chamado "A Carolina", que é uma ferida aberta em palavras. Comovente, faz-nos pensar em todas as perdas que tivemos e teremos:

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, — restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

Na minha lista de compras, o livro Toda poesia de Machado de Assis (Cláudio Murilo Leal, ed. Record).

Minha honra é melhor do que a sua

Ter que dar satisfações à segurança da loja porque o alarme antifurto disparou constitui acontecimento corriqueiro, na sociedade em que vivemos. Nunca aconteceu comigo, felizmente, mas já vi acontecer e concordo que gera um constrangimento moral, que leva muitas pessoas a bater às portas do Judiciário para pedir indenização. Ocorre que um casal do Rio de Janeiro, ao ser atingido pela situação, ingressou em juízo pedindo uma reparação de alto valor, especificamente por este motivo: são pessoas de elevada condição social e, por isso, merecem ser indenizados à altura. Ou seja, quanto mais endinheirado você é, melhor e mais rentável a sua honra. Que tal?
Para infelicidade dos bem-aventurados em questão, contudo, a juíza que recebeu a causa tinha os pés no chão e os olhos na realidade e não apenas indeferiu a pretensão como lhes deu uma bela lição de moral, tornando um processo com matéria corriqueira numa investigação sobre cidadania. Eis aí mais uma sentença exemplar.

E o pulso ainda pulsa

Você perdeu Arnaldo Antunes, de grátis, no último dia da Feira do Livro, ontem? Perdeu?! Pois eu também. Fica para a próxima. Já me felicita saber que os resultados superaram as expectativas. Além disso, eu tive um domingo ótimo com a família.
Na volta para casa ainda pude levar um susto, ao saber que a banda Warilow (é assim que se escreve?) ainda existe! E 17 anos depois ela ainda continua cantando pa-ra-pa-pa-pa pa-ra-ra-pa-pa-ra-pa-pa...

Vem chegando sensual
Num swing especial
Vou te mostrar
Vou te conquistar
Eu quero tudo com você
Deixando a nossa emoção no aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaar!

Direto do túnel do tempo!

domingo, 28 de setembro de 2008

Sobre a amamentação

A situação melhorou bastante, de ontem para hoje. Mas não graças aos médicos, e sim graças às enfermeiras. Explico: em um novo atendimento na Santa Casa de Misericórdia, ontem pela manhã — longo e detalhado, durou cerca de 1 hora e 40 minutos —, Polyana foi orientada sobre as técnicas corretas de ordenha. Graças a isso, conseguiu finalmente esvaziar a mama lesionada, o que para ela foi um tremendo alívio. De quebra, as gentis enfermeiras observaram a mamada da Júlia e se chegou a um consenso sobre a posição mais adequada, que machuque a mãe o menos possível. Ah, sim, foi possível doar uma quantidade do precioso líquido — o leite materno — para uma das crianças internadas no hospital, o que para nós é motivo de grande alegria.

Polyana foi orientada a extrair leite algumas vezes por dia, antes da mamada. Ela está fazendo isso desde ontem e, apesar do trabalhão que dá (ela perderá mais algumas horas das poucas que têm para descansar executando essa tarefa), o resultado é perceptivelmente bom: os nódulos e a vermelhidão desapareceram; a dor diminuiu significativamente; o leite continua sendo produzido em grande quantidade e o extraído antes da mamada está sendo armazenado para doação; a mamada em si está ocorrendo sem sacríficios, pondo fim ao desgaste emocional dos últimos dias, além de que Júlia está mamando mais tempo, com menos esforço, garantindo-lhe uma alimentação mais eficiente. Graças a Deus — e às enfermeiras da Santa Casa.

Muitíssimo obrigado a elas. Se fazem isso por nós, que dispomos de outros recursos, imagine o que não representam para a sua clientela típica, as mãezinhas pobres, que dispõem apenas desse serviço para que seus filhos tenham melhores oportunidades de desenvolvimento saudável.

Dois desabafos

Viver em Belém é sofrer sem esperança. No meu outro blog, dois desabafos nesta manhã de domingo. Leia lá, clicando aqui e aqui.

sábado, 27 de setembro de 2008

Imagine se fosse uma doença rara

Não é à toa que, quando o indivíduo pode, procura assistência médica em outro Estado. Desculpem, particularmente eventuais médicos que passem por aqui, mas minha paciência com os membros dessa categoria anda declinando a níveis críticos. Explico.

No sábado passado, minha esposa começou a sentir dor na mama direita. A amamentação, para ela, sempre foi difícil e dolorosa — o único obstáculo a que fôssemos 100% felizes em nossos primeiros momentos como pais, mas um obstáculo bem grande. No domingo, a mamada se transformou numa sessão de tortura. Era dramático vê-la sofrendo daquele jeito e, por consequência, deixando o bebê sem mamar direito e bastante estressada. Ao longo da semana, os sinais de uma mastite se tornaram claros: pele avermelhada, quente e nódulos.

Uma semana se passou. O problema poderia ter sido contornado, não poderia? Acredito que sim. Mas não foi. E em boa medida graças aos médicos, seis a esta altura, que simplesmente não conseguem chegar a um acordo. Além das dúvidas que apresentam, eles se desdizem o tempo todo. Há os que mandaram fazer compressas quentes; uma disse que não. Há os que recomendaram parar de amamentar com o seio lesionado e os que disseram o contrário, porque a mastite piora se os dutos e alvéolos não forem esvaziados. Um mandou tomar uma cartela de anti-inflamatório (6 dias), outro alertou que um anti-inflamatório não deve ser tomado além de 72 horas e um terceiro mudou o anti-inflamatório e mandou que ela tomasse mais uma cartela inteira, além do que já foi consumido. E recomendou um antibiótico, apesar de ele mesmo ter, minutos antes, através de uma ultrassonografia, constatado que Polyana não tem abscessos (também não fez febre). A pediatra que indicou esse colega não está de acordo com isso. Ah, sim, também nos foram prescritos medicamentos de uso tópico que, simplesmente, não adiantam de nada — um deles, indicado para tratar infecção por Candida albicans, o famoso "sapinho", comum em bebês de menos de 6 meses, mas que Júlia comprovadamente não possui!

Ou seja, a turma está trabalhando na base da tentativa e erro. "Ah, esse é o sintoma? Então faz assim e vamos ver o que acontece. Toma esse remédio e vamos esperar para ver no que dá." Somos cobaias. Estão experimentando, para ver qual o melhor tratamento. E o que é pior: fazem-no sem critério, sem método, sem cientificidade. Amanhã, se outra lactante aparecer com os mesmos sintomas, eles provavelmente terão as mesmas dúvidas e repetirão as mesmas apostas.

O que mais me irrita, o que não aceito de modo algum, é que não estamos lidando com um fato incomum, inusitado, pouco explorado pela Medicina. Lidamos com uma simples mastite! Jesus Cristo, quantas mulheres dão à luz por ano? Destas, quantas amamentam? Destas, quantas têm problemas? Não disponho de números, mas suponho que são muitas. E mesmo com todo o conhecimento acumulado ao longo de décadas, não é possível que se chegue a uma solução final para uma mastite? Deus me livre de ter um câncer!

PS — Uma sétima médica foi consultada, por telefone. Trata-se de uma amiga pessoal, em quem confiamos bastante. Apesar de não ser pediatra nem ginecologista (é dermato), fez ponderações muito lúcidas, como sempre. Foi a única que se lembrou de pedir um hemograma antes de decidir a medicação a fazer. Um simples hemograma, esse exame bestinha que todo mundo faz, mas que nenhum dos outros se lembrou de pedir.
Vamos então ao laboratório, para mais um round na luta contra esse inimigo invencível que, não, não é a fome no mundo, é só uma mastite de nível mais leve do que grave.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Falso glamour

Um estudo do Centro de Pesquisa e de Educação sobre o Controle do Tabagismo da Universidade da Califórnia, que acabou de ser anunciado, revelou que a famigerada indústria do tabaco pagava fortunas aos maiores nomes de Hollywood, para que eles aparecessem fumando nos filmes. A intenção dos crápulas era construir uma imagem glamourosa para o cigarro, pois sabiam que o produto, em si mesmo, é dos mais vagabundos.
Desgraçadamente, tiveram sucesso. E o têm até hoje.
Já não está na hora, então, de fazer uma campanha em sentido contrário? Antitabagismo já!

Cadê a cegueira?

Depois não querem que a gente fale. Faz duas semanas inteiras que Ensaio sobre a cegueira foi lançado no Brasil. Hoje, terceira sexta-feira depois do lançamento nacional, nada do filme de Fernando Meirelles entrar na programação cinematográfica da província de Belém do Pará. Alguma boa explicação para isso? Nenhuma, com certeza. Talvez seja o estilo Moviecom de nos avacalhar, como sempre. Afinal, tens as porcariazinhas comercialoides passando.

Bateu, levou

Nem bem eu publiquei a postagem sobre os emos, aí embaixo, um membro da categoria protestou. Trata-se de uma jovem de 16 anos, que assinou seu comentário (primeiro bom sinal) e fez suas críticas num tom educadíssimo, defendendo os seus direitos de cidadania. Adorei a Glória. Estou doido que ela volte.
Não deixe de ler o nosso debate na caixa de comentários.
Volta, Glória!

Problemas de auto-afirmação

Fui criança dos anos 70 para os 80 e adolescente dos 80 para os 90. Vi os hippies (lembro-me deles na Praça da República, em grandes bandos; hoje, há remanescentes), os punks, os darks, os grunges e outros. Mas nunca tive a menor intenção de aderir a esses modismos. Não parei de tomar banho nem adotei uma cabeleira black power. Não me vesti predominantemente (ou exclusivamente) de preto, muito menos me enfiei em bermudões com os fundilhos na altura dos joelhos. Desde criança, uma marrentice que me é muito própria e me acompanha até hoje, embora mitigada, me levava a detestar tudo que implicasse em massificação (embora eu ainda fosse demorar alguns anos para entender o que é "massificação"). Atribuo a isso o fato de sempre ter odiado futebol, como até hoje.
Hoje, após uma boa temporada na terapia, compreendo melhor a necessidade de auto-afirmação que todo mundo possui na passagem para a adolescência e muitos carregam consigo, pela vida afora. Muitos, senão a maioria. Entendo que as relações horizontais influenciam mais a formação da personalidade do indivíduo do que as verticais e antecipo, embora não sem dor, que os colegas de escola terão mais poder sobre minha filha do que eu e a mãe dela, a partir de certo momento. Compreendo, ainda, que aderir a tribos é uma forma simples de se sentir integrado e aceito, muito embora possa ser justamente o contrário.
Ao aderir a esses modismos toscos, o sujeito, sem saber, se despersonaliza. Abre mão de si mesmo para vestir-se, agir e pensar (quando pensa) como a tribo em questão. E o pior: acredita que, ao fazê-lo, está arrasando. Acha que isso é atitude. Por essas e outras, defendo que o governo deveria custear acompanhamento psicológico para todas as pessoas, em algumas fases da vida, tais como o final da infância e a puberdade. Mas, claro, sei que é uma proposta a ser encarada como ridícula.
Escrevo estas mal traçadas linhas sob a influência do dia 24 de setembro, escolhido pelos sátiros da internet como Emoday — dia para homenagear os emos, talvez a tribo mais chata das que já conheci até hoje. Não sei se é porque, com mais idade, meu nível de intolerância está aumentando ou se porque tenho um espécime dessa raça (ainda que light, por restrições externas) na família ou se, como penso, porque eles são insuportáveis, mesmo.
Quando preciso ir a um shopping, vejo-os em seus bandos, metidos no figurino preto cheio de elementos destoantes e exagerados. Dá vontade de fugir correndo, antes que me façam algum mal. Afinal, criaturas que glorificam o sofrimento e a desesperança só podem trazer uma nuvem de dor ao seu redor e disso estou passando.
Cansado de dizer para minha prima que pintar os olhos todo santo dia, desde cedo, pode acelerar o envelhecimento da pele; que tênis All Star de cano longo são horrorosos e que a música emo entorpece os neurônios, além de outros itens, perdi o que me restava de paciência com essas criaturas perdidas. Então resolvi disseminar a campanha do Emoday. Clique aqui e veja uma excelente compilação do que os sítios humorísticos publicaram no último dia 24, com destaque para o "Manual do emo".
E reze por esses condenados!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Faminto? Tá a fim?

Você encararia essa iguaria aí embaixo?

A aparência do garçom já entrega: trata-se de mais um mimo da culinária chinesa. Clique aqui para saber do que se trata.
Bom apetite.

Não me respondeu

Você se lembra desta postagem, de sete dias atrás? Dê uma olhada na caixa de comentários e veja que interessante: o comentarista não me respondeu!
Por que será?

Expectativa de vida do brasileiro

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — IBGE (sítio muito interessante, vale a pena conferir) acaba de divulgar dados mais recentes acerca da expectativa de vida do brasileiro, referentes ao ano passado. Agora falamos em 72,7 anos.
Observando os dados por região, em 1997 o Pará já possuía a melhor expectativa de vida do Norte (69,2 anos), fato que subsiste dez anos depois (72). No Nordeste, apenas a Bahia chega a esse mesmo valor. Naquela região se encontra o Estado em piores condições no país: Alagoas (66,8), que já estava no último lugar uma década atrás (62,5).
A região mais bem posicionada, como já se podia esperar, é a Sul, com média de 74,7 anos, Santa Catarina à frente (75,3), como já estava na pesquisa anterior. O mesmo índice foi obtido pelo Distrito Federal.
É interessante observar que, mesmo aumentando a esperança de vida do brasileiro em todos os Estados, as posições não se alteram, ou seja, quem já era o melhor por região na conferência anterior permanece na posição, o mesmo se dizendo de quem estava no fim da fila. Daí se conclui que a ausência de políticas desenvolvimentistas sérias, sobretudo locais, faz com que o povo continue na mesma, passe o tempo que passar. O incremento que houve se deu por condições gerais do país, que não exprimem nenhum esforço de superar as tradicionais causas de pobreza regionais.
Outros aspectos investigados pela pesquisa foram:
a) taxa de mortalidade: de 1997 a 2007, queda de 6,6‰ para 6,23‰, em 2007;
b) taxa de fecundidade: continua a tendência de declínio, decrescendo de 2,54 para 1,95 filho em média por mulher.
Todos esses fatores reunidos levam ao envelhecimento da população. Os idosos já somam quase 20 milhões de pessoas ou 10,5% do total de brasileiros - um desafio para a previdência social.
Em tempo, o povo que reclama do art. 75 do Código Penal (que determina o prazo máximo de 30 anos para que uma pessoa cumpra pena no país) pode se ouriçar mais um pouco. Afinal, considerando os motivos pelos quais tal regra foi criada (posso falar sobre isso outra hora), quanto maior a média de vida do brasileiro, mais motivos haveria para mudar a lei e ampliar esse tempo máximo. Esse argumento, especificamente esse, procede.

Cai um mito

A prática pra lá de cafajeste de redigir contratos contendo cláusulas leoninas, covardes, redigidas em letras miúdas para enganar a parte frágil da relação foi tão comum, mas tão comum durante séculos, que "letras miúdas" virou uma expressão popular, bastante conhecida. Todo mundo entende que isso significa ser ludibriado pelo outro lado. Contudo, o aforismo em questão agora vai virar história e nada mais.
A Lei n. 11.785, de 22.9.2008, publicada ontem no Diário Oficial (neste momento a caçula das leis brasileiras), enterrou de vez essa prática. Ela alterou a redação do § 3º do art. 54 da Lei n. 8.078, de 1990 — Código de Defesa do Consumidor, que passou a vigorar nos seguintes termos:

"Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor."

O CDC já continha vedações a práticas que comprometessem a leitura e a compreensão do contrato pelo consumidor, mas como eram extremamente genéricas, deixavam espaço para o mau-caratismo de muitos. Agora, com o Direito assimilando a linguagem popularizada pela Informática ("tamanho da fonte" e "corpo doze"), não resta margem a manobras: o contrato será legível. Por outro lado, se o interessado vai mesmo ler as cláusulas, aí é com ele.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Chegando aos dois meses

Dois meses atrás, a estas horas, eu estava em casa pensando no que faria após o almoço, já que faltavam apenas cinco horas para que minha esposa fosse internada na maternidade. Estávamos numa situação de olhar um para o outro e simplesmente aguardar a hora de entrar no carro e tomar nosso rumo.

Dois meses se passaram. Nossa Júlia agora é uma menininha de 4,45 quilos e 56 centímetros. Graças a Deus, mantém ótima saúde e, a despeito do sacrifício que tem sido a amamentação (muitas dores para a mãe), permanece no aleitamento materno exclusivo, o que deve lhe oportunizar um sistema imunológico bem desenvolvido.

Ontem, por sinal, estivemos no setor de aleitamento humano da Santa Casa de Misericórdia, para um atendimento que pudesse otimizar o processo de amamentação. Eles são, como já nos haviam assegurado, excelentes profissionais, muito ciosos do que fazem e, acima de tudo, muito humanos. Mesmo assim, interesses espúrios os colocaram no olho do furacão, há poucos meses, devido ao número de bebês mortos na UTI neonatal, em pouco tempo. Todos os governos merecem severas críticas, mas esses profissionais abnegados merecem o nosso respeito e, mais, o nosso reconhecimento pelo muito que fazem por gerações de crianças que vêm ao mundo em condições adversas.

Falando nisso, se você está amamentando e tem condições de fazê-lo, doe leite para a Santa Casa. A enfermeira ontem me explicou o nível de necessidade que o hospital tem e ele é enorme. É preciso assegurar oito doses para cada criança internada, sendo 40 leitos só na UTI, onde a alimentação é feita exclusivamente com leite materno. Ainda há 110 leitos no berçário, onde, segundo entendi, a alimentação pode ser mista, mas também a demanda por leite humano é imensa, obviamente.

Com este apelo para que as pessoas se interessem em conhecer a Santa Casa de Misericórdia do Pará, aquilo que ela realmente é, de bom e de mau, desejo a minha filhota uma vida sempre feliz, nesta data que as convenções humanas consideram especial.

Deus te abençoe, criança.

Política Nacional de Turismo

Quantas vezes critiquei, aqui no blog, que o Estado do Pará não possuía uma política séria de turismo. Aliás, não tinha política alguma, falando as autoridades no assunto apenas quando os governos tucanos anunciavam a inauguração de algum ponto turístico novo, como se atividade brotasse do nada, apenas porque existem locais interessantes à visitação.
Entrou em vigor há cinco dias a Lei n. 11.771, de 17.9.2008, que dispõe sobre a política nacional de turismo. O novo disciplinamento tem uma clara intenção de profissionalizar essa indústria, criando as condições para que ela importe em real desenvolvimento, sem prejuízo do meio ambiente. Determina que "o poder público atuará, mediante apoio técnico, logístico e financeiro" (inclusive incentivos fiscais) para a consolidação da atividade.
A notícia não é boa apenas para quem vive de turismo ou tem essa intenção, ou para as comunidades que têm potencial para lucrar com ele. É auspiciosa para todos nós, consumidores, por disciplinar as atividades de prestadores de serviços, notadamente os de hospedagem e agências, definindo inclusive infrações e penalidades.
Espero que a lei seja implementada, inspirando idênticas providências no âmbito dos Estados e Municípios. Se bem que eu também espero que as estradas melhorem, que as passagens aéreas fiquem mais baratas, que o efetivo das polícias rodoviárias aumente, etc., mas isso já é outra história.

Recomendação de leitura técnica

Eu já tinha o manual de Direito Penal do Prof. Paulo Queiroz, doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Procurador da República, quando editado pela Saraiva. Acabei de adquirir, contudo, a 4ª edição (2008), "completamente revista e ampliada", agora publicada pela Lumen Juris. O completamente não era força de expressão: a obra está, realmente, ampliada. O que era bom ficou melhor.
Escrito numa linguagem agradável, o que o torna acessível aos neófitos, não perde em momento algum a precisão e o aprofundamento. A elevadíssima revisão dos clássicos; a profunda visão social e humana; e a menção ao modo como se ensina Direito nas universidades e como o mesmo é aplicado pelos juízes e demais profissionais (aspectos raramente cogitados em um manual) colocam o livro entre os melhores disponibilizados aos estudiosos do Direito Penal, nestes tempos em que todo hora surge um autor novo. Basta ver quantos novos autores chegaram às livrarias nos últimos anos, sem que isso desperte em nós, professores, a necessária segurança para fazer a recomendação de leitura aos nossos alunos.
Cito três trechos que li ontem, do Direito Penal: Parte Geral que ora recomendo:

"Parece-nos que em grande parte a especialização dos juristas é um mito. Sim, porque são chamados a se manifestarem sobre praticamente tudo e, portanto, sobre temas os mais diversos e nos quais é ou pode ser ignorante: imprudência técnica (de médicos, engenheiros etc.), sistema financeiro etc., por vezes assumindo um papel de economistas, de administradores ou de todos conjuntamente.
Não raro, a maior especialização do jurista é, assim, um simples preconceito, porque, apesar de sua formação técnica numa área específica (a lei e o direito), tem em tese competência para todo e qualquer assunto, dada a onipresença do fenômeno jurídico: medicina, psiquiatria, finanças etc.: são, paradoxalmente, especialistas sem especialidade. Exatamente por isso, certas interpretações jurídicas podem eventualmente parecer ridículas aos olhos de um autêntico especialista/perito." (p. 128)


"Convém notar ainda que subsistema penal está assentado sobre uma estrutura econômica e social profundamente desigual, e, por isso, é arbitariamente seletivo e assim recruta a sua clientela entre os grupos mais vulneráveis, a revelar que a pretensão de justiça está grandemente comprometida desde a sua concepção. Em sua majestática igualdade, dizia Anatole France, a lei proíbe tanto ao rico quanto ao pobre dormir embaixo das pontes, esmolar nas ruas e furtar pão. E isso sem falar na descontextualização e despolitização dos conflitos que resultam da tecnicização." (pp. 128/129)


"Também por isso (distinção entre técnica e justiça), segue-se que uma boa formação técnico-jurídica não constitui garantia de profissionais (juízes, promotores, advogados, etc.) justos, mesmo porque podem ser, não obstante a excelência técnica, corruptos, preguiçosos, insensíveis etc. E uma boa interpretação, na arte como no direito, além de técnica e razão, requer talento e sensibilidade. É que tais atividades demandam habilidades que estão muito além da simples técnica: maturidade, experiência, coragem, capacidade de trabalho." (p. 129)

Estou fascinado com o livro, que merece toda a atenção de quem é do ramo (afirmação que faço com o ônus de reconhecer que não examinei a obra toda, ainda — mas não creio que terei uma decepção daqui para o final).

Sem condições de trabalho

Soube por uma colega de trabalho (e não pela imprensa, que já explora o ocorrido), que mora na Vila São Luís, de frente para a lateral da TV Liberal, do acidente que vitimou um operário de apenas 26 anos, ontem pela manhã. Trabalhando sem qualquer equipamento de proteção individual (EPI), consoante declarou o funcionário do pronto socorro (informou que trajes vestia a vítima) e constatou a Delegacia Regional do Trabalho em vistoria no local, além do depoimento de pelo menos um outro operário (que não se identificou, claro), o rapaz carregava uma folha de zinco que encostou num cabo de alta tensão. A enorme descarga projetou-o para o chão, o que lhe custou a vida. Com isso, duas crianças pequenas ficam órfãs, numa situação perfeitamente evitável.
Bastaria o cumprimento de regras impostas pelo bom senso para que acidentes assim não acontecessem. Ocorre que o bom senso há muito tempo já constitui, também, norma jurídica, devidamente contemplada em lei. Para dar apenas um exemplo, a Lei n. 8.213, de 1991, determina, em seu art. 19, § 2º, que "constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho".
A mesma amiga me relata, ainda, sua insatisfação com a atuação da DRT. Segundo ela, este órgão comparece mensalmente a um edifício de propriedade de sua família, para fiscalizar as condições de trabalho. Examinam até se há papel higiênico no banheiro e se a água disponibilizada aos funcionários é mineral. Mas deixa passar o descumprimento do mínimo de segurança, numa obra de grande porte, em relação a aspectos visíveis mesmo numa rápida olhada.
Pelo menos, a DRT já esteve no local, acionada pelo Instituto Médico Legal, que é obrigado a comunicar óbitos por acidente de trabalho. Aguardemos o desenrolar dos fatos. Afinal, esta não é a primeira vez (este ano) que alguém morre num acidente na construção civil nesta cidade. Nem será a última, presumo.

Ironia (potencialmente fatal) no começo do dia

O sinal abre e os veículos à minha frente começam a mover-se, devagar. O que vai mais à frente, uma Parati verde, para subitamente. É que um ônibus da linha Marituba/Ver-o-Peso não se fez de rogado com o semáforo e passou a toda. Se o automóvel tivesse tentado prosseguir, o coletivo não teria como parar e talvez nem como desviar: a colisão seria inevitável, sabe Deus com quais consequências.
Segue o tráfego e, metros adiante, passo pelo dito ônibus. Em sua traseira, uma publicidade com duas crianças sorridentes e as legendas: "Ensine seu pai a levar a sério as regras do trânsito" e "Trânsito não é brincadeira".
Pensei que aquele motorista grotescamente irresponsável nem sequer sabe o que está colado ali atrás, que ele exibe pela região metropolitana todo dia. Nunca viu. Se viu, foi como se não tivesse visto. Não lhe importa. Não lhe diz respeito. Ele apenas ganha a vida pondo em risco as vidas de todos. Mas criticar motorista de ônibus em Belém do Pará é trivial. Quero mesmo é falar dos empresários do setor.
Empresário brasileiro, de um modo geral, seja qual for o ramo de atuação, costuma ser bastante burro. Digo isso porque é imediatista. Persegue o máximo de lucro no mínimo de tempo, sem se importar com conseqüências, mesmo que elas impliquem no exaurimento da própria atividade econômica em si — do que o melhor exemplo é a exploração dos recursos naturais.
Se eu fosse empresário do ramo de transporte coletivo urbano, gastaria dinheiro com cursos sérios de qualificação profissional. Sérios, eu disse. E constantes. Sempre haveria algo novo. E estabeleceria uma política de resultados. Porque se o motorista dirigir com responsabilidade, o resultado esperado é a redução do número de acidentes. Com isso, menos veículos parados para conserto, menos custos com manutenção e recuperação de danos ou com seguro, menos indenizações por danos pessoais a pagar. Ou seja, menos despesas = mais lucro.
Além disso, ao criar uma imagem de qualidade e segurança perante o público, a transportadora atrairia mais passageiros e, portanto, aumentaria seus lucros.
Honestamente, acho que isso é uma questão de inteligência, para quem só pensa em lucros. E para quem é gente, é também uma questão de respeito, cidadania e solidariedade.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Transporte condigno

Enquanto questões domésticas urgentes me roubam o tempo e a concentração, as postagens ficam suspensas. Nesse meio tempo, leia esta notícia aqui e me deixe a sua opinião. Claro que o cidadãozinho comum vai detestar. Mas há em que pensar.

sábado, 20 de setembro de 2008

Feira do Livro

A XII Feira Pan-Amazônica do Livro está aberta, desde ontem. Considerado o quarto mais importante evento do gênero do país, está maior do que a do ano passado. Cheguei de lá faz pouco mais de uma hora e a impressão que tive foi de que está tudo como dantes. Explico.
A feira continua charmosa e atrativa, sobretudo pela presença de grandes nomes da literatura. Este ano, de volta o vozinho Ariano Suassuna e a presença do grande educador Rubem Alves, dentre outros nomes notáveis. Quando eu deixava o Hangar, o sistema de som anunciava o início da palestra da escritora Nélida Piñon, destacando que foi a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras.
Quanto à feira em si, mais do mesmo: um monte de estandes que talvez representem bons negócios para revendedores, mas que deixam muito a desejar para o cidadão comum, que vai ali em busca de bons títulos para sua biblioteca pessoal. Vou à feira sobretudo atrás daquelas editoras específicas, cujas obras nem sempre podem ser encontradas nas livrarias que temos na cidade, de viés mais comercial. Foi assim que garimpei algumas jóias. Todavia, cada vez menos encontramos novidades. Você vai de uma ponta a outra e encontra os mesmos títulos que encontraria nas livraria, com talvez um pouco mais de variedade. E os preços? Ah, os preços! Um absurdo!
Eu via algum título interessante e conferia o preço. Botava de volta na prateleira pensando "Este eu compro depois, pela internet." E assim será. O comércio eletrônico é a salvação. Graças a ele, podemos ter acesso a obras impensáveis até algum tempo atrás.
Mesmo assim, a satisfação de investir em livros subsiste. Comprei alguma coisa. Mas os tempos são outros. Em vez de garimpar livros para mim, comprei seis obras para minha Júlia — livros que lerei para ela, daqui a sei lá quanto tempo e que, ainda mais tarde, ela lerá sozinha, segundo espero. Bem a propósito, foram comprados no estande da Editora Cortez, que deu 30% de desconto em todos os itens e ainda ganhei um de cortesia.
Mesmo lamentando não haver um lançamento nacional bem aqui na minha cidade, com tarde (ou noite) de autógrafos e tudo, lamentando que a feira privilegie mais o comercial do que o cultural, segundo me parece, para mim continua sendo um programa obrigatório. Devo voltar ainda nesta.
Passe lá.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Testando

Quem passa aqui pelo blog e presta atenção a detalhes decerto perceberá mudanças no visual. Minha inquietação natural não me permite permanecer com as coisas do mesmo jeito por muito tempo, sendo surpreendente, para mim, que o atual layout do blog tenha durado tanto. Isso tem uma explicação: a minha enorme falta de familiaridade com as linguagens de programação ou congêneres, mesmo a considerada simplória HTML. Por conseguinte, só mexo naquilo que o próprio Blogger disponibiliza. Passei os últimos meses aguardando melhorias nessas ferramentas e elas vieram, ainda que mínimas.
Por enquanto, estou em fase de testes. Por isso, se todo dia tiver alguma novidade ou se alguma mudança soar feia ou brega, não se assuste: é apenas um teste. Em algum momento chegarei a uma aparência que agrade e facilite a leitura — a começar pelas fontes, cujo tamanho foi aumentado.
Enfim, não estou surtado. Apenas aperto uns botõezinhos e vejo o que acontece. Coisa de amador, naturalmente.

30 anos de Christiane F.

Que me lembre, eu tinha menos de 13 anos quando li Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída. Li até o fim, suportando o mal estar que me causava acompanhar a trajetória de pessoas que destruíam a si mesmas. Sempre tive dificuldade para suportar pessoas autodestrutivas, mesmo em obras de ficção. O filme Noites felinas (dir. Cyril Collard, 1992), por exemplo, embrulhou o meu estômago. Não estava satisfeito quando terminei de vê-lo.
O livro Christiane F... está completando 30 anos de lançamento. Foi um grande best seller de sua época e rendeu uma versão cinematográfica, com a participação de David Bowie. No momento em que a obra volta a ser comentada, pelo seu aniversário, a protagonista vive um drama pessoal, mais um, na sucessão deles que sua vida é. De volta à dependência química, ela perdeu recentemente a guarda do filho de 12 anos.
Christiane Vera Felscherinow, celebridade underground, mostra que o mundo das drogas, definitivamente, nada tem de bonito e de feliz. Três décadas se passaram, mas as feridas continuam abertas e sangrando. Boa sorte a ela.
Na imagem, o cartaz do filme dirigido por Uli Edel em 1981(*) e a capa de uma das edições brasileiras, justamente a que li.
Clique aqui para ler uma matéria ótima, da Deutsche Welle, sobre nossa personagem.

(*) O título do filme, exatamente igual ao do livro, no original, pode ser traduzido como "Nós, crianças da estação Zoológico". Faz referência ao fato de que os meninos e meninas viciados se prostituíam na estação do metrô às proximidades do zoológico da cidade.

O que fazer na lua-de-mel?

Quando me casei este blog ainda não existia, portanto não posso saber como me comportaria. Imagino que não ficaria ansioso por postar. Talvez postasse, ao final de um dia de passeios, retornando ao hotel e tendo a internet disponível. Afinal, relacionar a lua-de-mel a atividade sexual incessante me parece um exagero danado, sobretudo em nossos tempos, quando o casal já não se encontra exatamente na fase da novidade.
Por isso, a análise psicológica que a mídia vem fazendo do fato de Lucas Lima e Juliana Paes terem postado em seus respectivos blogs em plena lua-de-mel me parece um tanto quanto exagerada, mais uma concessão ao cerco a que se condenou essa casta conhecida por "celebridades".
Compulsão? Não acho que seja, necessariamente. Considero a explicação dada pela atriz até bastante plausível: após ter seu casamento tão badalado pela imprensa (reconhecimento de perda da privacidade, inclusive por culpa própria?), era razoável que ela mesma desse alguma palavra a respeito. Além do mais, ela já vivia há quatro anos com o atual marido. O que havia de tão urgente em sua vida de recém-casada que a impedisse de digitar um texto curtinho, numa folga?
A matéria que inspirou esta postagem, a meu ver, generaliza demais e, pior, enseja factoides. "Indica compulsão" já é muito amplo. E o sujeito que entra no trabalho e desata a falar de futebol, não é compulsivo também? Pior, mesmo, é apontar que "as pessoas preferem se comunicar pela internet quando passam por alguma situação na qual não estão se sentindo bem". Estou certo de que esta afirmação, feita pelo coordenador do projeto Dependentes de Internet, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, está fora de contexto e serve para induzir o leitor a concluir que as duas celebridades mencionadas não estariam felizes. E por que não estariam?
Já sei onde isso tudo termina. Em comentários absolutamente indignos sobre Lucas Lima, que se casou com Sandy, cuja declarada virgindade já se tornara uma espécie de dogma nacional — para os desocupados, claro.
Para terminar, esclareço o motivo pelo qual escrevo estas palavras. Os eventuais leitores deste blog sabem que não me interesso por celebridades e por colunismo social. Muito pelo contrário. O que me incomodou foi essa estranha relação entre manter um blog atualizado e um sentimento de insatisfação pessoal. Como procuro postar todos os dias (não o tenho feito, mas sinto vontade), agastou-me a possibilidade de ser considerado, por isso, compulsivo e permanentemente insatisfeito.
A matéria em questão não está assinada. Suspeito que também não está bem intencionada.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Universal perde para mãe de santo

A Igreja Universal do Reino de Deus vem perdendo a batalha para o espólio da mãe-de-santo Gildásia dos Santos e Santos. Já condenada pela Justiça baiana ao pagamento de uma indenização milionária, a igreja só teve o alento de ver o valor despencar, por decisão da 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça. Permaneceu, entretanto, a obrigação de indenizar, decorrente do reconhecimento judicial de que houve ofensa à vítima, por motivos religiosos.
Em 1999, o periódico Folha Universal publicou um artigo sob o título “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. A matéria era ilustrada com uma foto de Gildásia, o que naturalmente infunde, em quem quer que veja o jornal, a conclusão de que ela seria um dos mencionados charlatões.
Falecida a ofendida em 2000, seus herdeiros recorreram à Justiça, postulando indenização por danos morais. E conseguiram. A meu ver, o maior efeito da decisão judicial não é financeiro, e sim a advertência que deixa contra a intolerância religiosa que, acima de tudo, implica em impor às pessoas a sua própria fé, com menosprezo e perseguição aos diferentes.
Eu não poderia deixar de mencionar, ainda, que os cultos afrobrasileiros estão de longe de ser o cenário em que mais frequentemente se veem estranhas práticas destinadas a curar doenças, por sinal mediante remuneração. Lá em casa também não é.

Fonte: http://www.conjur.com.br/static/text/69994,1

Ensinar o Direito de hoje

O Centro Universitário do Pará — CESUPA está abrigando, desde ontem, o ciclo de seminários "A atualidade no ensino do Direito", realizado pela Associação Brasileira de Ensino do Direito (ABEDi).
Na primeira noite, ontem, o tema era "Vinte anos de Constituição e democracia e seus reflexos no ensino do Direito Constitucional brasileiro", tendo como palestrantes as professoras Luciana Fonseca e Juliana Freitas, e como moderadora a profa. Bárbara Dias. Estive lá e asseguro que as questões suscitadas nas exposições foram bastante instigantes.

Hoje, o tema será "A nova criminalidade e seus reflexos no ensino do Direito Penal brasileiro". Eu é que estarei por lá, muito bem acompanhado pelos professores Alexandre Rodrigues (palestrante) e Cristina Lourenço (moderadora).

A iniciativa é apenas o começo de um cronograma de seminários, que prosseguirão em outubro com novos temas. Trata-se de um esforço da ABEDi, que hoje tem em sua diretoria nacional dois professores do CESUPA (Daniel Torres de Cerqueira, presidente, e Sandro Alex de Sousa Simões, diretor de eventos), em seu objetivo de ser uma confraria de professores discutindo educação de qualidade, através de novas metodologias e enfrentamento dos desafios trazidos pelo Direito, como se encontra em nossos dias.

Lançado o programa de revitalização

"Política estadual de valorização do patrimônio cultural": assim está sendo chamado o programa do governo do Estado que promete fazer um investimento milionário na restauração de prédios históricos, até 2011, nos Municípios de Belém, Óbidos, Santarém, Vigia, Santa Isabel, Bragança, Cametá e Ponta de Pedras — objeto de postagem anterior. Os mais de 80 milhões de reais prometidos virão em sua maior parte do próprio orçamento estadual (60%) ficando o restante a cargo do governo federal, o que sugere um engajamento real do atual governo estadual em relação a essa causa. Se não for apenas uma jogada de marketing político, como sugere o amigo Fred Guerreiro.
Se for, é bom Ana Júlia se cuidar, porque fez um anúncio oficial ontem, no Palacete Faciola (um dos que serão restaurados, ao custo de 8 milhões de reais, com previsão de entrega da obra para 2009), na presença de pessoas que podem cobrá-la e muito por uma promessa não cumprida. Não me refiro, é lógico, ao eleitor comum, mas a uma parcela da sociedade que pode dar um trabalho danado. Na legenda da foto de Tarso Sarraf (repórter fotográfico do Diário do Pará), está dito que a "governadora anunciou investimentos no Palacete Faciola, na presença de empresários e autoridades".
O texto, com ares de colunismo social, não faz jus à imagem. Note que, à esquerda, quem aparece de perfil é José Augusto Torres Portiguar, Procurador da República. Ao seu lado, mais ao fundo, Benedito Wilson Sá, Promotor de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Público — ou seja, Ministérios Públicos Federal e Estadual, instituições que têm sido enfáticas na cobrança de medidas preservacionistas do nosso patrimônio histórico e cultural. Por conhecê-los, sei que não estavam ali para comer salgadinhos, e sim para saber em que medida o programa governamental atende aos reais interesses de conservação desse patrimônio. Se a coisa desandar, não tenha dúvidas de que eles serão duros na cobrança, judicial inclusive.
Apaixonado que sou pela herança cultural de nossos antepassados, desejo que, com ou sem marketing, o programa dê totalmente certo. Será mais uma razão para fazer as malas e conhecer (ou revisitar) cada uma das cidades beneficiadas.

Acréscimo em 25.11.2011: Mas, como já acrescentado à postagem anterior, o programa foi só marketing político, mesmo. Não aconteceu absolutamente nada.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Vagabundo é a mãe (e o pai)

Imagine a cena: sujeito decide furtar um carro velho, estacionado na rua. Consuma o delito e vai embora. Adiante, porém, descobre que há uma criança dormindo no banco traseiro. Indignado com a irresponsabilidade dos pais — abandonar uma criança no interior de um carro em plena madrugada —, o ladrão telefonou para a Brigada Militar da cidade gaúcha de Passo Fundo e informou o fato. Disse não ter visto a criança antes de furtar o veículo e indicou em qual rua deixaria o automóvel. Seguindo as indicações dadas por ele, os policiais encontraram o carro. O menino, de apenas 5 anos, permanecia dormindo lá dentro.
A criança foi levada para a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento, de onde acionaram o Conselho Tutelar. Descobriu-se que, por ocasião do furto, os pais do menino estavam bebendo num bar.
E eis que, de repente, na luta maniqueísta entre os "vagabundos" e os "cidadãos de bem", é o ladrão que revela melhores princípios morais. Segundo me disseram, parece que o delegado que investiga o caso teria declarado que, caso venha a encontrar o ladrão, não pedirá sua prisão preventiva pelo furto. Nem eu pediria.
Quero só ver se os pais vão botar a culpa na mardita.

Fontes: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL763089-5598,00-LADRAO+ENCONTRA+CRIANCA+DORMINDO+EM+CARRO+E+CHAMA+POLICIA.html e http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u445879.shtml

PS — O título da postagem não tem a menor intenção de ofender os pais da criança, como parece (reconheço). Olhando o texto, agora (dia seguinte), percebi isso e, como não pretendo incorrer em vícios que critico, esclareço: no jargão policial, qualquer acusado de delito é vagabundo. Não interessa sua história, apenas a existência de uma acusação. Isso faz parte do discurso moralizante que caracteriza as polícias. O título da postagem, portanto, significa que o ladrão, rotulável como vagabundo, teve mais ética e responsabilidade que os pais do menino, portanto não mereceria o predicado. Estes, uma vez criminalizados, passariam a ostentar essa classificação.

Notícias que vão mudar o mundo — 20ª edição

Fazia meses que eu não publicava nada nesta minha seção obviamente copiada do Kibeloco. Hoje, contudo, resolvi voltar a ela, já que é da mais absoluta importância que todo mundo saiba isto:

"Pato sai ileso de furacão"

A manchete é mais uma contribuição do portal Globo.com à causa do jornalismo, mas a notícia real pode ser vista aqui e não ajuda nada, já que "pato heroi" é demais para qualquer um.
Ah, sim: mudou minha vida.

Os "fichas sujas"

A Associação dos Magistrados Brasileiros atualizou a sua famosa lista de candidatos que respondem a ações penais na Justiça, indevidamente conhecida como "lista suja" e que eu prefiro chamar de "lista esclarecedora". Clicando no link agora, você verá os seguintes nomes:

DUCIOMAR GOMES DA COSTAPREFEITO PTB/UNIÃO POR BELÉM
Processos
- ação de responsabilidade por ato de improbidade administrativa n.
2008.1.008616-3 - 2ª VARA DE FAZENDA DA CAPITAL - Improbidade administrativa.

JORGE CARLOS MESQUITAVICE-PREFEITO PSL
Processos
AÇÃO PENAL Nº 2000.2.007274-8, 12ª VARA CRIMINAL DE BELÉM, CRIME CONTRA A PESSOA/LESÃO CORPORAL/CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO/DANO.LEILA MÁRCIA SILVA SANTOSVICE-PREFEITA FRENTE BELÉM POPULAR
Processos
AÇÃO PENAL Nº 2001.39.00.005470-5, 3ª VARA FEDERAL DE BELÉM, CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO/DANO/CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA/DESACATO/CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL/SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO.

MARINOR JORGE BRITOPREFEITO PSOL
Processos
AÇÃO PENAL Nº 1996.2.010154-5, 12ª VARA CRIMINAL DE BELÉM, CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO/DANO/INCITAÇÃO AO CRIME
Leila Márcia e Marinor foram acusadas de crimes praticados por ocasião de manifestações das quais tomaram parte, na condição de militantes desta ou daquela causa. Alegam que agiram com justo motivo. Sobre Jorge Mesquita, nada sei.
Sobre o outro... Esse dispensa apresentações. É improbidade administrativa, mesmo. Pura e simplesmente.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Algemados, claro

Quem duvidou, está vendo acontecer. Há um mês, publiquei uma postagem avisando que a Súmula Vinculante n. 11, do Supremo Tribunal Federal, limitando o uso de algemas, não traria benefícios à cliente habitual do sistema de justiça criminal. Dito e feito. Acabaram de chegar ao STF as primeiras reclamações violação à súmula em questão. Em todos os casos, os prejudicados eram clientes típicos, tais como catadores de papelão e pedreiro.
Confesso que eu esperava saber que a polícia estava usando algemas em contrariedade à súmula, por simples arbitrariedade. Não que isso não esteja acontecendo cotidianamente, mas o fato ainda não foi suscitado, com vistas à tomada de providências. As reclamações a que ora me refiro têm no pólo passivo dois juízes.
Como sempre ocorre nesses casos, os magistrados tentaram justificar suas medidas de força com base em alegações vazias, meras especulações, conforme a presumida periculosidade do indivíduo ou a possibilidade de fuga. Esta é uma prática diária e insuportável dos meios judiciários, pelo país afora, que mais expressa as velhas e odiosas teorias de higienização social.
Aguardemos o que dirá o STF sobre essas primeiras insurgências. Do resultado delas advirá uma compreensão mais completa acerca do Direito Penal, interpretado conforme a Constituição.

Nus

Você com certeza já ouviu falar de Spencer Tunick, apenas não liga o nome à pessoa. Tunick é aquele famosíssimo fotógrafo americano que corre o mundo fotografando pessoas nuas e, mais recentemente, multidões peladas.
Clicando aqui, você pode ter uma amostra do trabalho desse polêmico artista. Esqueça peitos, bundas e genitálias. O cara é um gênio.

Dar vida à cidade

Chama-se "Cidade Viva" o programa que o governo do Estado deve lançar oficialmente amanhã e que tem por finalidade recuperar o patrimônio histórico, em Belém, Santarém, Santa Isabel, Abaetetuba, Bragança, Óbidos, Cametá, Vigia e Ponta de Pedras. Com a promessa de investir 80 milhões de reais, o governo promete restaurar prédios históricos, notadamente igrejas e fortificações, mas incluindo residências — afinal, muitas famílias moram em edificações que são verdadeiras joias, hoje depauperadas e sob risco de desaparecimento.
Consta que haverá desapropriações — do que puder ser desapropriado, claro — e, após o restauro, a requalificação dos prédios para fins públicos, garantindo a sua posterior conservação.
Sem dúvida, é o maior programa de conservação do patrimônio histórico de que já se ouviu falar por estas bandas. Se sair do papel — é uma lástima sempre fazer o adendo da desconfiança, mas temos motivos sérios para tanto —, Ana Júlia terá dado uma dentro, que fará toda a diferença na avaliação do seu governo.
Aguardemos o lançamento oficial e sua repercussão. É importante conhecer a proposta, porque uma tarefa dessas não pode ser bem realizada sem que a colaboração da sociedade civil, notadamente daquela que se importa com os bens imateriais que pertendem a todos nós.

Acréscimo em 24.11.2011: Hmmmmm... Como direi? O programa não saiu do papel. Para variar.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Celebridades vegetais em revista

Uma boa campanha publicitária, além de vender o seu produto, pode ficar na memória do público como uma recordação agradável, divertida e, talvez, como um mote para brincadeiras imortais. Eu, até hoje, digo que o tempo passa, o tempo voa e até a poupança Bamerindus já levou o destempero.
A agência capixaba MP Publicidade criou duas campanhas muito bem sucedidas para a rede varejista Hortifruti. Atribuídas ao publicitário Leo Carbonell, baseiam-se em trocadilhos. A primeira, objeto desta postagem, cria uma revista de celebridades, a Cascas, com suas capas absurdas, exatamente como na publicação que a inspirou.














Clássicos cinematogastronômicos

A segunda campanha da rede Hortifruti começou a ser veiculada no final do ano passado, sob o mote "Aqui a natureza é a estrela". Os trocadilhos são feitos com títulos de filmes.












E seguem os engarrafamentos

Belém sempre viveu num ritmo devagar-quase-parando. No que diz respeito ao trânsito, isso é cada vez menos força de expressão, como todos sabemos. Concetro-me, porém, na Pedro Álvares Cabral, no trecho anterior à Júlio César, sentido Entroncamento-Centro.
Todas as manhãs, a grande quantidade de veículos torna lento o deslocamento. Mas, ao invés de alguém tomar providências para dissolver o nó, ocorre justamente o contrário. Há muito tempo, algum inteligente da Aeronáutica, que dá ordens na Comissão de Aeroportos da Região Amazônica — COMARA, entendeu que devia assumir a jurisdição sobre a via pública e manda os seus garotos colocarem uns cones na pista, afunilando o tráfego. A intenção, pelo que se deduz, é facilitar o acesso dos privilegiados que trabalham naquela unidade e chegam pelo retorno, que fica bem em frente. Ou seja, garantem a meia dúzia, em detrimento de todos os demais.
O mais interessante é que, atualmente, com o trânsito lento, seria bem mais inteligente manter um agente na direção do retorno, pedindo a parada dos veículos quando o trecho à frente estivesse lotado. Os carros no retorno passariam sem problemas e os demais motoristas nem seriam prejudicados, já que a dianteira estaria obstruída, mesmo. Mas seria demais esperar uma atitude inteligente, certo? Enquanto isso, o que os gênios fazem é, tão somente, estreitar a pista, criando um estrangulamento no tráfego antes do engarrafamento propriamente dito.
Seja como for, o trânsito já foi municipalizado, de modo que a jurisdição sobre a Pedro Álvares Cabral é da CTBel e não da Aeronáutica. Antes da municipalização, quem mandava era um Departamento da Polícia Militar, o que também excluiria as Forças Armadas. Estas, contudo, adoram aloprar nas portas de seus quartéis, agindo como se a ditadura militar (saudosa para elas) ainda não tivesse acabado e, nós, civis, ainda estivéssemos submetidos aos seus abusos.
Fico ensandecido ao ver militares comandando o entorno de suas unidades. Reconheço que há normas para a proteção de seu patrimônio e de suas atividades, mas isso não pode conflitar com as competências civis. Aliás, soldado de qualquer uma das Forças Armadas dando ordens no trânsito, em meu entendimento, configura crime de usurpação de função pública, com pena cominada de 3 meses a 2 anos de detenção ou multa (art. 328 do Código Penal). E como o soldadinho age no cumprimento de ordem de superior hierárquico, quem deve responder pelo crime é o autor da ordem, não o seu executor (CP, art. 22). Nada que impeça a condução coercitiva do executor a uma delegacia, para as providências legais, dado o flagrante delito.
Agora que chutei o balde, alguém faça o favor de informar aos militares que eles não têm poder fora de suas unidades, quando não estejam no exercício legítimo de uma missão militar. E exorte a CTBel a assumir efetivamente as suas competências, que não se restringem a multar (é só o que ela faz), disciplinando o trânsito e coibindo as ações irresponsáveis, partam elas de condutores, pedestres ou usurpadores fardados.

sábado, 13 de setembro de 2008

Ansioso para ver

Quem acompanha o blog sabe que já fiz muita festa para o filme Blindness, a versão cinematográfica do romance Ensaio sobre a cegueira do meu escritor favorito, José Saramago, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles. Há um ano venho acompanhando as notícias sobre a obra, ansioso por vê-la.
O filme estreou ontem em 95 salas do Brasil, ou seja, Belém não está incluída. Ainda preciso segurar a vontade mais um tempo. Recordo-me, porém, que ele sofreu duras críticas no último festival de Cannes. O diretor deu uma entrevista dizendo que as críticas o perturbaram um pouco, mas que ele se recuperou plenamente após ver a reação de Saramago. A notícia dizia que há um filme no YouTube mostrando a tal reação.
Amigos, eu me emocionei. Quem quiser ver o que o inenarrável escritor português achou do filme, clique neste link.
Meu Deus, quando isso vai estrear?!!

No topo!


Hoje, quando Lula é mencionado em qualquer um dos meios que frequento, raras são as pessoas que se dispõem a elogiá-lo. Não falta, contudo, quem o vergaste com todos os tipos de críticas, a começar pela sua sempre lembrada baixa instrução formal. Deboches, ironias e muitas acusações acerca de corrupção são a tônica. Mas segue o presidente barrigudo, papudinho e de nove dedos impávido, agora consagrado com a maior popularidade de um presidente em toda a História da República.
São 64% de avaliação entre ótimo e bom, antes mais perceptível nas classes mais baixas (beneficiadas com as bolsas isso e aquilo), porém agora crescente nos cenários menos prováveis: entre os mais ricos e mais instruídos (provável reflexo da expansão da classe média). Ou seja, digam o que quiserem, o cara é um fenômeno. O que é ruim, passa. O que é bom, ele colhe os louros.
E depois dizem que ele é burro. Sinceramente, burro sou eu.

Praça Milton Trindade — Horto Municipal

Várias pessoas já me haviam falado a respeito e hoje, finalmente, resolvi conferir o maior programa no estilo família-com-crianças que já fiz. Botei as meninas no carro e fomos ao Horto Municipal.
O Horto, hoje reformado e em bom estado de conservação, é um espacinho, um verdadeiro recanto, encravado na tal selva de pedra em que transformaram a cidade. Fica a duas quadras da Praça Batista Campos, na confluência da Rua dos Mundurucus com a Dr. Moraes. Apenas uma nesga de terreno triangular, onde as árvores ainda sobrevivem, fornecendo sombra e um pouco de conforto para as pessoas que ali acorrem, em busca de sossego para passear, estudar, praticar tai chi chuan e, principalmente, brincar com as crianças.


Logo na entrada há um espelho d'água cheio de peixes — acredito que carpas. Ao centro, um quiosque onde é possível fazer um lanche bem decente. O pequeno prédio antigo ali existente foi transformado em uma sala de jogos para os petizes. E em cima da areia, onde a molecada pode se sentar e se sujar bastante, um parquinho com brinquedos de madeira. Tudo muito agradável.

De repente, eu me vi ali, em meio a uma profusão de pais e mães, carrinhos e sacolas, mamadeiras, pipos e disputas em torno de quem seria dono do brinquedo (parece que as crianças têm uma tendência natural a preferir os brinquedos alheios, desinteressando-se dos próprios, mesmo que sejam idênticos; fiz uma anotação mental sobre isso, para posterior utilização). E eu também estava com o meu próprio carrinho, sacola, esposa e criança. Uma delícia!

Ficamos menos de duas horas no local, uma manhã bastante agradável. No Horto, não é preciso marcar encontro. Pessoas amigas aparecerão. Encontramos uma amiga com o filho e mais dois casais, com as respectivas crianças. Na foto, Patrícia e seu Lucas, fotografados conosco pelo marido e pai deles. Além disso, os orgulhosos papais e mamães puxam assunto e logo estamos compartilhando nossas experiências. E eu adoro pensar que, neste mundo, ainda é possível ser espontâneo, ser gentil, ser receptivo a estranhos.

Para mim, o Horto não é apenas o destino de bons passeios, a serem feitos com frequência. Ele é uma ilha de esperança, numa cidade que precisa ser resgatada.