sábado, 27 de setembro de 2008

Imagine se fosse uma doença rara

Não é à toa que, quando o indivíduo pode, procura assistência médica em outro Estado. Desculpem, particularmente eventuais médicos que passem por aqui, mas minha paciência com os membros dessa categoria anda declinando a níveis críticos. Explico.

No sábado passado, minha esposa começou a sentir dor na mama direita. A amamentação, para ela, sempre foi difícil e dolorosa — o único obstáculo a que fôssemos 100% felizes em nossos primeiros momentos como pais, mas um obstáculo bem grande. No domingo, a mamada se transformou numa sessão de tortura. Era dramático vê-la sofrendo daquele jeito e, por consequência, deixando o bebê sem mamar direito e bastante estressada. Ao longo da semana, os sinais de uma mastite se tornaram claros: pele avermelhada, quente e nódulos.

Uma semana se passou. O problema poderia ter sido contornado, não poderia? Acredito que sim. Mas não foi. E em boa medida graças aos médicos, seis a esta altura, que simplesmente não conseguem chegar a um acordo. Além das dúvidas que apresentam, eles se desdizem o tempo todo. Há os que mandaram fazer compressas quentes; uma disse que não. Há os que recomendaram parar de amamentar com o seio lesionado e os que disseram o contrário, porque a mastite piora se os dutos e alvéolos não forem esvaziados. Um mandou tomar uma cartela de anti-inflamatório (6 dias), outro alertou que um anti-inflamatório não deve ser tomado além de 72 horas e um terceiro mudou o anti-inflamatório e mandou que ela tomasse mais uma cartela inteira, além do que já foi consumido. E recomendou um antibiótico, apesar de ele mesmo ter, minutos antes, através de uma ultrassonografia, constatado que Polyana não tem abscessos (também não fez febre). A pediatra que indicou esse colega não está de acordo com isso. Ah, sim, também nos foram prescritos medicamentos de uso tópico que, simplesmente, não adiantam de nada — um deles, indicado para tratar infecção por Candida albicans, o famoso "sapinho", comum em bebês de menos de 6 meses, mas que Júlia comprovadamente não possui!

Ou seja, a turma está trabalhando na base da tentativa e erro. "Ah, esse é o sintoma? Então faz assim e vamos ver o que acontece. Toma esse remédio e vamos esperar para ver no que dá." Somos cobaias. Estão experimentando, para ver qual o melhor tratamento. E o que é pior: fazem-no sem critério, sem método, sem cientificidade. Amanhã, se outra lactante aparecer com os mesmos sintomas, eles provavelmente terão as mesmas dúvidas e repetirão as mesmas apostas.

O que mais me irrita, o que não aceito de modo algum, é que não estamos lidando com um fato incomum, inusitado, pouco explorado pela Medicina. Lidamos com uma simples mastite! Jesus Cristo, quantas mulheres dão à luz por ano? Destas, quantas amamentam? Destas, quantas têm problemas? Não disponho de números, mas suponho que são muitas. E mesmo com todo o conhecimento acumulado ao longo de décadas, não é possível que se chegue a uma solução final para uma mastite? Deus me livre de ter um câncer!

PS — Uma sétima médica foi consultada, por telefone. Trata-se de uma amiga pessoal, em quem confiamos bastante. Apesar de não ser pediatra nem ginecologista (é dermato), fez ponderações muito lúcidas, como sempre. Foi a única que se lembrou de pedir um hemograma antes de decidir a medicação a fazer. Um simples hemograma, esse exame bestinha que todo mundo faz, mas que nenhum dos outros se lembrou de pedir.
Vamos então ao laboratório, para mais um round na luta contra esse inimigo invencível que, não, não é a fome no mundo, é só uma mastite de nível mais leve do que grave.

2 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Não há de ser nada, amigo. Uma simples mamografia talvez revele isso. Apenas líquido. Já passamos por isso aqui em casa (certo, faz muito tempo), mas me lembro que o médico recomendou que fosse retirado o excesso de leite com uma bombinha manual. Deu certo.
Desejo saúde à sua esposa e à Júlia. E a você também, é claro!
Abraços e até algum dia.

Yúdice Andrade disse...

Obrigado pelas palavras confiantes, meu amigo. As coisas já melhoraram, como informo em postagem que acabou de sair do forno.
No mais, "até algum dia" soa muito sofrido. Tenho acessado o teu blog, para ver se há novidades. E sempre te espero por aqui. Outro dia te vi num sinal fechado da cidade. Cheguei a acenar, mas não me viste. Abraços.