quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Universal perde para mãe de santo

A Igreja Universal do Reino de Deus vem perdendo a batalha para o espólio da mãe-de-santo Gildásia dos Santos e Santos. Já condenada pela Justiça baiana ao pagamento de uma indenização milionária, a igreja só teve o alento de ver o valor despencar, por decisão da 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça. Permaneceu, entretanto, a obrigação de indenizar, decorrente do reconhecimento judicial de que houve ofensa à vítima, por motivos religiosos.
Em 1999, o periódico Folha Universal publicou um artigo sob o título “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. A matéria era ilustrada com uma foto de Gildásia, o que naturalmente infunde, em quem quer que veja o jornal, a conclusão de que ela seria um dos mencionados charlatões.
Falecida a ofendida em 2000, seus herdeiros recorreram à Justiça, postulando indenização por danos morais. E conseguiram. A meu ver, o maior efeito da decisão judicial não é financeiro, e sim a advertência que deixa contra a intolerância religiosa que, acima de tudo, implica em impor às pessoas a sua própria fé, com menosprezo e perseguição aos diferentes.
Eu não poderia deixar de mencionar, ainda, que os cultos afrobrasileiros estão de longe de ser o cenário em que mais frequentemente se veem estranhas práticas destinadas a curar doenças, por sinal mediante remuneração. Lá em casa também não é.

Fonte: http://www.conjur.com.br/static/text/69994,1

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Yúdice,

obrigada pelo post. Não, não sou mãe-de~santo. Não tenho religião alguma. Mas, pela proximidade com a questão racial no trabalho desenvolvido por alguns anos, recentemente, aprendi que o preconceito contra os afro-religiosos é mais do que intolerãncia religiosa. Foi e é usado como negação da raça. Foi inclusive "legalizado" no Código de Posturas de Belém de 1880, que proibia os batuques!

Por isso gostei muito de ler seu escrito. E sei que a Igreja Universal do Reino de Deus - será que Deus sabe deste "reino"? - esmera-se em perseguir, difamar e menosprezar as religiões de cunho africano.

Mais uma vez, obrigada.

Um abraço.

Yúdice Andrade disse...

Não pensei que a postagem fosse proporcionar um interesse tão grande, o que me deixa feliz. Interessantíssima a análise que mencionas sobre "negação da raça".
No mais, fiquei interessadíssimo nesse Código de Posturas de 1880. É muito difícil conseguir legislação municipal antiga. E ela, como nesse caso, permitiria uma boa investigação antropológica. Como eu poderia ter acesso a esse documento? Ficaria muito feliz com uma cópia.
Abraços, Bia.