sexta-feira, 31 de maio de 2013

Adeus a maio

Falta pouco mais de duas horas para que o mês de maio se vá, cedendo espaço para o mês mais legal e engordativo do ano. Pena que junho traga, também, o estresse da finalização de um semestre letivo, que sempre nos sobrecarrega. Houve um ano em que eu quase não provei nada de comidas típicas por causa do excesso de trabalho. Um acinte! Este ano, espero que tudo dê certo.

Que o ano avança, outro sinal também o indica: as chuvas ainda estão fortes, mas o calor tem aumentado. O dia de hoje foi um exemplo. As pessoas estão cada vez mais queixosas do inferno em terra por aqui. Já sabemos o que vem pela frente: cada vez menos chuva, cada vez mais calor a nos destruir a sanidade mental. Que inveja eu sinto de quem mora em regiões de clima temperado ou, ao menos, sub-tropical. No sudeste e no sul do país, agora mesmo, o friozinho já dá o ar de sua graça...

A despeito dos infortúnios que não podemos mudar, um feliz mês de junho para você. Que venha a comilança!

Os 12 defeitos insuportáveis dos brasileiros

Acabei de conhecer o blog Ah duvido!!, que publicou uma postagem sob o título acima. Naturalmente, quem tiver interesse deve ir até lá e ler a postagem original. De minha parte, devo dizer que não ratifico inteiramente as afirmações do autor, a começar que estou mais do que convencido de que o brasileiro não é o melhor povo do mundo. Prefiro não dar as costas para eles.

Quanto aos 12 defeitos, apresentados fora de qualquer ordem de preferência, tenho a dizer o seguinte:


  • Brasileiro reclama de tudo e não resolve nada. Verdade. Mas, neste quesito, melhor eu ficar quietinho, porque não sou lá um grande exemplo...
  • Brasileiros são um bando de marias-vai-com-as-outras. Verdade. Muito interessante a explicação sobre "ignorância pluralística".
  • Brasileiro acha que a vida é resumida em futebol, fofoca, carnaval, cerveja e putaria. Verdade. Paixões que "comprometem o intelecto humano"...
  • Brasileiro gosta da hipocrisia. Verdade. E as redes sociais estão aí para provar isso a todo momento.
  • Brasileiro não sabe lidar com o politicamente correto e politicamente incorreto. Verdade. Viver está um saco. Não posso mais nem contar piadas sobre doenças fatais...
  • Brasileiro tem o pé no extremismo para babaquices. Verdade. Quanto mais idiota a causa, maior a mobilização e a fúria quanto a sua defesa.
  • Brasileiro não admite a própria culpa. Verdade. E eu, pessoalmente, tenho que conviver com muita gente dizendo frases repletas de "tu" e "vós", mas sem nenhum "eu"...
  • Brasileiro não sabe resolver um problema de cada vez. Não sei, mas a argumentação do rapaz é plausível.
  • Brasileiro acha que os Estados Unidos são o melhor em tudo. Acho que isso já foi uma realidade da classe média, mas acredito que já mudou, embora ainda sejamos uma nação de deslumbrados. Miami e Dubai estão aí para provar.
  • Brasileiro é o câncer da internet. Não tenho informações para aferir o que o autor afirma, mas se houver fundamento de fato, ele tem razão.
  • Brasileiro não sabe a própria língua. Verdade! Insuportável verdade!
  • Brasileiro adora dar reconhecimento para quem não merece. Verdade absoluta. E os dois merdas que aparecem na foto que ilustra a postagem são apenas uma breve e contundente demonstração disso. Pelé, maior brasileiro de todos os tempos? Só um país muito merda para aceitar isso.
Existe vida inteligente na Internet. Podemos não concordar com tudo, mas um texto como este cuja leitura sugiro nos bota a refletir.

Desabafo de um brasileiro

Entre imposto, planos de saúde e contas de consumo eu gastei tanto dinheiro hoje que, posso dizer, sozinho fiz a economia do país girar! Estou me sentindo o próprio distribuidor de renda!

Mas como essa renda vai para o governo extorsionário, para os planos de saúde que não nos atendem quando precisamos de verdade e para os prestadores de serviços humilhantes que nos disponibilizam, a sensação é de ter ateado fogo ao dinheiro. E eu gostava tanto dele!

Como os leitores do blog devem saber, costumo classificar 30 de abril como o pior dia do ano, por causa do imposto de renda. Mas hoje estou me sentindo pior ainda. Não é nada alentador pensar nisso. Desculpem o desabafo.

Pode jogar o arroz mas, por favor, não cante!

Achei simpática a atitude dos tribalistas Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown de fazer uma canção de apoio ao casamento gay, embora a tal canção fosse mais oportuna na França, onde as pessoas estão se estapeando na rua por esse motivo. Aqui no Brasil, apesar dos protestos (na verdade, concentrados num grupo muito específico de babacas), os tribunais superiores já autorizaram, o CNJ já regulamentou procedimentos e os cartórios já começaram a fazer.

A canção, assim, fica mais como uma forma bem humorada de combater o preconceito reinante. Útil, sem dúvida. Mas eu, honestamente, fico com medo de que alguém comece a cantar "Joga arroz" por aí.

Gente, a canção é insuportável! Brega, melosa, infantil e grudenta. E ainda tem uma batida que lembra axé. Qualquer garoto de periferia com um violão na mão e a capacidade de rimar Bartolomeu com Romeu poderia compor algo do mesmo nível. Estou falando sério: é ruim de quebrantar o espírito!

Não conheço a carreira de Arnaldo Antunes e sei que Carlinhos Brown sempre foi alternativão. Marisa Monte, no entanto, já foi diva e também minha cantora favorita. Depois virou uma chata de galocha. Eu comprava seus CD, escutava, não gostava e parava de ouvir. Só recentemente tive coragem de comprar O que você quer saber de verdade, que é de 2011, porque me encantei com a canção "Depois". Metade do disco é tolerável.

A cantora tem recebido, há vários anos, críticas atrozes sobre ter criado uma armadilha para si mesma ao inventar esse papo de ser eclética. Ficou tão eclética que perdeu o rumo do estilo. Seus discos são uma colcha de retalhos resvalando para a breguice total. Eu já vinha dando razão a essas críticas, assim como outros fãs. Mas com "Joga arroz" estou pedindo para descer do ônibus.

Insuportável. Se Deus quiser e me ajudar, é para nunca mais.

Faroeste caboclo: agora eu vi

No final das contas, não foi como eu pensava. João de Santo Cristo (hoje eu aprendi que Santo Cristo é sua cidade de procedência, não seu sobrenome), ao desembarcar na rodoviária de Brasília, não ficou com um sorriso bobo de criança nos lábios, mas sorriu, ainda dentro do ônibus. Um sorriso contido e algo duro, vindo de alguém que provavelmente não sorriu muitas vezes na vida. Contudo, reconheço que assim ficou mais plausível.

Faroeste caboclo já seria um bom filme se fosse apenas um filme. Se fosse apenas uma ideia do roteirista Marcos Bernstein (de novo explorando uma relação com Renato Russo, já que também roteirizou Somos tão jovens, trabalhando em ambos com o estreante Victor Atherino); ou uma ideia do cineasta René Sampaio (em seu primeiro longa).

Seria o tipo de filme que você, se aprecia o cinema nacional, não se arrependeria de pagar um ingresso, mas também não mudaria sua vida. Inevitável admitir, no entanto, que a força, aqui, reside mais uma vez na grife Renato Russo. É nossa compreensão de que estamos imersos no universo do trovador solitário que desperta emoções prévias, razão de uma legião de fãs estar ávida pela estreia, mesmo sem saber exatamente o que esperar. Mas isso não significa, de modo algum, que a obra não tenha méritos.

O maior desses méritos penso ser a decisão dos roteiristas de não tentar reproduzir a canção literalmente, sobretudo se foi declarado que o filme era uma livre criação sobre a ideia original. Assim, João nunca foi o terror das cercanias em que morava, nunca frequentou a escola nem roubou a caixinha da igreja. Não comeu as menininhas da cidade antes dos 12, não foi a Salvador, não conversou com nenhum boiadeiro. Tampouco começou a roubar sob a má influência dos boyzinhos da cidade, muito menos recebeu a visita de um senhor de alta classe com dinheiro na mão, que lhe teria feito uma proposta indecorosa e rejeitada, por princípios.

O mérito do roteiro é criar uma estória tão curta e seca quanto verdadeira, fazendo-nos pensar nos incontáveis Santos Cristos que existem por aí. Mais uma vez nos deparamos com o criminoso que foi forjado desde cedo, no ventre da brutalidade do mundo. O pai amoroso que lhe avisou "não quero filho ladrão!" foi morto na sua frente, por tiro de soldado da Polícia Militar, a partir de um motivo injustificável. Daí que o último ato do protagonista, antes de deixar sua terra, é matar esse policial. Ao contrário de uma crítica boba que li, não se trata de um crime inexplicável: é um acerto de contas com o passado e um aviso do que virá pela frente. Por essa morte, o garoto acaba no reformatório. Nada é mostrado sobre o que se passa ali, por isso não sabemos se aumentou o seu terror. Mas, com certeza, ele saiu de lá pronto para a guerra.

Em Brasília, o primo peruano Pablo vai guiá-lo no caminho do crime e fazê-lo ganhar algum dinheiro, que ele não torrou na zona da cidade porque, a essa altura, já estava apaixonado pela linda Maria Lúcia, no filme filha de um senador arrogante. Depressiva por algum motivo não revelado, a mocinha se envolve com o bandido mas, ao contrário do que possa parecer, ela não é uma porra louca sequiosa de perigos e ruínas. Ao contrário, ela é até metida a certinha e por isso rejeita o traficante playboy Jeremias, porque se recusa a namorar um traficante. João vai mentir para ela a respeito.

O roteiro costura, assim, um romance sincero, entre duas pessoas perdidas, querendo uma chance de felicidade, que acaba por se transformar numa estória de sacrifício pessoal. A pouco expressiva Maria Lúcia da canção se converte em uma heroína.

Outro mérito do roteiro é criar um contexto adequado para situações que eu, p. ex., jamais entendi só de ouvir a canção. Nunca ficou claro para mim por que Maria Lúcia se casava com Jeremias, se amava Santo Cristo (e por isso ela o defende no confronto final), e muito menos por que ela "se arrependeu depois e morreu junto com João, seu protetor". No filme, tudo se encaixa perfeitamente.

Uma cena de grande beleza plástica.
O roteiro também foi sensato ao evitar a sandice de um final no qual o duelo entre os dois marginais virava um folguedo popular. Delírio da canção. No filme, não há multidão nenhuma, nem bandeirinhas, sorveteiro e muito menos gente da TV filmando tudo por ali. Existem apenas as pessoas perdidas de antes, cujo desfecho é aquele que a canção já informava em 1987 (disco "Que país é este").

Isto faz de Faroeste caboclo um filme triste e solitário, o que pode incomodar aqueles que insistem na bobagem dos finais felizes. Mas é tudo coerente. Num mundo repleto de absurdos, de jovens alucinados, policiais corruptos e de tanto preconceito de classe e cor, o drama de João de Santo Cristo não é apenas provável: estou certo de que ele é real.

***

Em tempo, todos os atores merecem elogios por suas atuações, notadamente Fabrício Boliveira, que tem a oportunidade de se firmar num mercado onde atores negros têm poucas oportunidades. Se escapar do erro de Lázaro Ramos, ao fazer um inesperado papel de galã pegador numa novela, pode impor o seu valor e, quem sabe, chegar ao posto de protagonista na TV. Mulher protagonista já teve, mas era a Taís Araújo, que sempre se casava com um branco rico. A dramaturgia ainda está devendo à sociedade um protagonista negro que não seja motorista, secretário, nem mesmo o amigo do branco rico.

Adendo em 7.6.2013:
Excelente a crítica publicada no Diário do Pará  exceto pela referência ao retardado mental do Tarantino, mas virou moda buscar essa relação. Com todo o restante, concordo sem ressalvas. E destaco que Arthur Dapieve escreveu uma biografia consistente de Renato Russo, sobre a qual escrevi esta postagem. A "pequena biografia" a que alude a crítica em apreço deve ser uma versão resumida.

Da mnemotécnica à esculhambação

Mnemotécnica. Conheci este vocábulo vários anos atrás, numa reportagem da revista SuperInteressante. Corresponde às técnicas para estimular a memória e facilitar a aprendizagem. Surgiu com o desenvolvimento das neurociências, que descobriram o funcionamento organizado e hierarquizado do cérebro. Abordado sob o viés da ciência, era um assunto instigante e útil.

A reportagem dava dicas de estudo ligadas ao senso hierárquico do cérebro e a sua maior permeabilidade a elementos visuais. Por isso, sugeria que, ao estudar, nós montássemos gráficos que, a uma olhada rápida, já informassem ao cérebro o conjunto das questões-chave, levando-o a buscar o restante das informações disponíveis, por nível de relevância. Para ilustrar, rabisquei rapidinho um exemplo, naturalmente dentro da minha zona de conforto. O tema é culpabilidade.


Os termos devem ser circulados e o mais importante de todos deve ficar ao centro. O cérebro o reconhecerá como a informação mais importante e saberá que, quanto mais afastada do centro estiver a informação, menor é a sua "patente", digamos assim. Como não existe uma regra específica para desenhar o gráfico, cada um deve pensar no modo como o desenho faz mais sentido para si. Eu, p. ex., em vez de deixar a palavra "culpabilidade" sozinha na elipse, decidi colocar os seus três elementos constitutivos junto. Eu entendo isso como estes três elementos fazem parte da estrutura da culpabilidade. Mas o conceito formal, "juízo de reprovação", ficou de fora. Existe um adendo sobre o juízo de reprovação ("formação da vontade contrariamente ao dever"), mas ele foi para outra elipse, para criar os níveis hierárquicos.

Na parte de baixo, coloquei as informações relativas a cada elemento constitutivo da culpabilidade, procurando manter a mesma distância entre informações de nível semelhante ("capacidade de compreensão e volição"; "erro"; "obediência hierárquica"/"coação"). No caso da imputabilidade, coloquei no primeiro nível hierárquico a sua definição e, no seguinte, os seus requisitos. É mais ou menos isso.

Meu professor de direito penal, Hugo Rocha, adorava recursos mnemotécnicos. Recordo-me de ele dizendo, p. ex., que vis impulsiva correspondia à violência física e ambas se escreviam com "i" (impulsiva, física), ao passo que vis compulsiva correspondia à violência moral e ambas se escreviam com "o" (compulsiva, moral). Havia outros maneirismos como este e, em geral, nós, alunos, nos entreolhávamos com alguma desconfiança; muitos achavam aquilo uma grande bobagem. Se era para decorar, era mais fácil decorar os nomes de uma vez, ao invés de ainda ter que relacioná-los a algum detalhe adicional.

Hoje, contudo, a mnemotécnica se alastrou por causa da fábrica de dinheiro que são os cursinhos preparatórios de concursos. Ou pelo menos um arremedo dela. Afinal, como a primeira fase de concursos públicos normalmente corresponde a uma prova objetiva (na maioria dos casos imprestável para mensurar conhecimento útil e crítico, porque se baseia tão somente em um volume ridículo de informações descontextualizadas), a ordem é memorizar a todo custo. Aí os cursinhos proliferaram enlouquecidamente e passaram a recorrer à bandalha para enfiar conteúdos na cabeça de seus ávidos clientes.

Já me dei ao trabalho de assistir (sempre por poucos minutos) algumas videoaulas pelo YouTube, inclusive de medalhões em suas áreas de conhecimento. Admito que já tenho uma prevenção terrível, mas consegui a proeza de odiar todas. Preciso até assistir a umas aulas de assuntos fora do meu métier, para ver se baixo a minha arrogância; afinal, tudo ali será novidade para mim.

Nessas aulas, o recurso aos macetes (palavrinha detestável) é comum. Mas vale destacar: aparentemente, quanto menos estrelado é o professor, mais macetes costuma usar. Exemplo: Para memorizar as teorias utilizadas para definir o tempo e o lugar do crime, pense na palavra LUTA: o lugar do crime (L) se define pela teoria da ubiquidade (U), ao passo que o tempo do crime (T) se define pela teoria da atividade (A). Viram como é fácil? E bem idiota, também. Dali a pouco o cara está cheio de palavras avulsas na cabeça e não sabe o que fazer com elas, principalmente se o nervosismo o afetar.

O exemplo acima foi tirado da caixa de comentários de uma videoaula. Sim, os alunos a-do-ram essas patuscadas. Apresentam o seu acervo com orgulho e animação. Por isso, navegando pela Internet, não será difícil encontrar um sem número de dicas. Achei uma em que uma fulana ensina a memorizar as espécies de penas previstas no Código Penal: RPM  Restritivas de direitos, Privativas de liberdade e Multa. Ela achou o máximo só precisar se lembrar da banda RPM! Agora imagine o cabôco no sufoco, na hora da prova, tentando se lembrar para que serve cada banda brasileira (ou cantor) de sucesso nos anos 1980/1990!

"Teu corpo é fruto proibido... Alternativa D!!!"
"Taqueopariu, os Paralamas do Sucesso eram dica para quê, mesmo?!" ou "Eu sei isso! Deve estar lá entre os Titãs e a Rosana Como-uma-Deusa!"

Já que estamos falando de música, recordemos que outro recurso inteligente dos cursinhos são as canções. Com efeito, é mais fácil memorizar a letra de uma canção do que um conteúdo imenso e disperso. Mas precisávamos mesmo institucionalizar a coisa? Além de que o professor agora precisa ser showman, em vez de ser cientificamente competente, ainda precisa arranhar um violão e afinar o gogó.

Pegue um DVD de concurseiro: em meio às aulas, existe sempre uma canção. Outro dia, peguei um de processo civil, contendo uma canção chamada "Litisconsórcio necessário". Meus sais...

Minha querida Ana Cláudia Pinho, numa palestra lá no CESUPA, citou um caso típico. Pense naquele pagodinho cantado pelo Alexandre Pires: "O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade / Se estou na solidão pensando em você?" Agora coloque nessa mesma melodia o seguinte: "O que é que eu vou fazer com essa tal continência / Que é tão parecida com a conexão?" (critérios para fixação de competência jurisdicional, matéria de direito processual).

E o Chacrinha nem está mais aqui para jogar um bacalhau podre na cara de um desgracento desses!

Se você, concurseiro ou candidato ao exame de Ordem, chegou até aqui, já deve estar embrutecido comigo. Mas já devia saber que este é um blog arbitrário até no nome. Mesmo assim, vou responder à pergunta que deveria estar na sua cabeça agora: qual é a maneira inteligente de ensinar?

Simples: fazendo o estudante entender o sentido, a razão de ser ou a finalidade da coisa. Voltemos ao macete LUTA, ali de cima. Quando o estudante entende que um crime pode ser praticado em mais de um local (a pessoa é ferida numa cidade e morre em outra, podendo haver testemunhas nos dois locais) ou que é no momento da conduta que o sujeito exprime o seu dolo (ou falta dele) em relação ao delito, fica fácil entender porque ubiquidade no primeiro caso e atividade no segundo. Não precisamos recorrer a nenhuma tolice mais. Lamento que este exemplo não possa ser compreendido por quem não seja familiarizado com o direito penal.

Faço estas afirmações na condição de quem sempre teve muito problema com Matemática. Eu já me considerava burro para os números. Hoje eu sei que meus professores da matéria chegavam em sala de aula e jogavam um monte de informações malucas na minha cara. Daí eu não entendia. E sabe como eu descobri isso? Vendo o seriado Numb3rs, no qual conhecimento matemáticos são utilizados para solucionar crimes. O personagem Charles Eppes explica conceitos matemáticos relacionando-os às situações mais prosaicas da vida. Todo mundo entende. Como minha esposa tem cabeça matemática, ela também compreende e também me explicou coisas que mostraram como a Matemática é mais simples do que parece e muito agradável, também.

Contexto, seriedade e praticidade. Elementos que fazem toda a diferença na educação. É por isso que o meu habitat é a universidade. Meu negócio é pensar.

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E você? Pode compartilhar conosco algum macete para decorar alguma coisa? Não precisa ser direito, não. Vou gostar de conhecer maneirismos de outras áreas.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Eu acho

Eu realmente acho que a justiça carioca deve liberar o Maracanã para um jogo de estreia. Juro por Deus.

O motivo para o embargo é a falta de segurança? Ora, o recado já foi dado. Agora liberem o estádio. Afinal de contas, o máximo que pode acontecer é aquela merda desabar e, se isso acontecer, teríamos a lamentar apenas o que já temos a lamentar: a imensidão de dinheiro público atirada ao lixo em tão nefando projeto.

Sim, eu sei que também perderíamos duas seleções de futebol, ou seja, nada. E alguns milhares de torcedores de futebol. Mas torcedores de futebol, como qualquer praga, proliferam numa velocidade incrível. Logo, outros teriam tomado seus lugares. De quebra, ainda morreriam diversos políticos, que lá estariam a se locupletar, de olho nas próximas eleições. Se morressem, um grande serviço seria prestado ao país.

Os trabalhadores que construíram o estádio, p. ex., aqueles que não terão dinheiro para comprar os ingressos de jogos da copa devido a seus valores astronômicos, já receberam seus salários, portanto a economia já girou. Principalmente para os que já embolsaram muita, mas muita grana com essa obra. Logo tudo estará como sempre esteve.

Então liberaí, dona justa.

Sinais de revolta na parede

No Conjunto Médici I, no brioso bairro da Marambaia, alguém escancarou sua revolta na parede:


O manifestante, contudo, está equivocado. Ter plano de saúde, hoje em dia, é pouca coisa melhor do que depender do SUS, uns anos atrás. A frase correta seria: "se você não puder pagar atendimento médico particular, está proibido de adoecer  para o seu próprio bem!"

Afinal de contas, com o plano de saúde você depende das agendas dos médicos, que dão preferência aos pacientes particulares e, em número assustador, atendem com uma falta de zelo e profissionalismo impressionantes. Você mofará em salas de espera que consolidaram a estranha contradição da hora marcada por ordem de chegada. Você estará exposto à incompetência, aos erros frequentes, à insuficiência de leitos (pediátricos, p. ex.), à inexistência de certos exames e procedimentos, além de uma série de mazelas que têm provocado o retorno de um velho hábito: adoeceu? Vá para São Paulo. O passado retornou.

Tristes situações ocorridas neste ano de 2013, que ainda está no seu quinto mês, fizeram-me escutar, de diversas pessoas, variações da afirmação de que, por aqui, o melhor médico é o avião. Detestável.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

O caso dos alunos da USP

Processo nº: 0023563-10.2011.8.26.0011
Classe - Assunto Inquérito Policial - Quadrilha ou Bando
Autor: Justiça Pública
Indiciado: (...)

Vistos.
Trata-se de ação penal movida contra (...) e outros por infração ao artigo 163, parágrafo único, III, por três vezes, artigo 253, artigo 288 e artigo 330, todos do Código Penal, c.c. o artigo 65, “ caput”, da Lei nº 9.605/98, nos termos dos artigos 29, “ caput”, e 69, ambos do Código Penal.
É o relatório.
Decido.
Devo consignar, inicialmente, que a descrição feita na denúncia, bem como o noticiado nos meios de comunicação, dão conta de que o protesto realizado pelos alunos da USP, longe de representar um legítimo direito de expressão ou contestação, descambou para excessos, constrangimento, atos de vandalismo e quebra de legalidade.
Assim, a instauração de um procedimento criminal foi válida, para apurar eventuais práticas delitivas.
A presente denúncia, porém, contém impropriedades, que impedem tenha curso a persecução criminal, sob pena de se incorrer em arbitrariedade distinta, e igualmente censurável, de se processar uma gama
aleatória de pessoas sem especificar as ações que cada uma tenha, efetivamente, realizado.
O direito penal, exceto nos regimes de exceção, não compactua com acusações genéricas, que acabam por inviabilizar, muitas vezes, o pleno exercício do direito de defesa.
É preciso que o acusado saiba, expressamente, não só as acusações que lhe são imputadas, mas qual a conduta que ele, em particular, teria desenvolvido, permitindo, a um, contrapor-se adequadamente as afirmações que lhe recaem, e, a dois, afastar os aventados enquadramentos típicos.
Afirmar, com respeito a setenta réus, que todos praticaram ou aderiram a conduta dos que depredaram as viaturas policiais, ou guardavam artefatos explosivos e bombas caseiras, recai no campo das ilações, por quem ignora ou não mais se lembra da sistemática de funcionamento das manifestações estudantis.
Muitos ali certamente estavam para, apenas, manifestarem sua indignação, que não é objeto no momento de apreciação se certa ou errada. Rotular a todos, sem distinção, como agentes ou co-partícipes que concorreram para eclosão dos lamentáveis eventos, sem que se indique o que, individualmente, fizeram, é temerário, injusto e afronta aos princípios jurídicos que norteiam o direito penal, inclusive o que veda a responsabilização objetiva.
Prova maior do exagero e sanha punitiva que se entrevê na denúncia é a imputação do crime de quadrilha, como se os setenta estudantes em questão tivessem-se associado, de maneira estável e permanente, para praticarem crimes, quando à evidência sua reunião foi ocasional, informal e pontual, em um contexto crítico bem definido.
Isso posto, indefiro a denúncia contra (...) e outros, com fundamento no artigo 395, I e II, do Código de Processo Penal.
P.R.I.
São Paulo, 27 de maio de 2013.


Antonio Carlos de Campos Machado Junior
Juiz de Direito

Educação para o trânsito

Quando há o que elogiar, elogio.

Cena corriqueira na cidade: os bacanas param em fila
dupla e os agentes de trânsito dão o maior  apoio,
organizando a patifaria.
Fiquei surpreso ao ver que a atual gestão de Belém iniciou uma campanha de conscientização pela TV, conclamando a população a não parar em fila dupla.

O vídeo educativo põe o dedo na ferida e mostra um problema crônico da cidade: os "cidadãos" que se julgam melhores do que todos os outros e que por isso estacionam livremente em fila dupla nas portas de escolas. A mensagem é muito feliz: pede que os pais ensinem o bom exemplo aos filhos. Perfeito. É exatamente essa a questão: o feladiputa que para em fila dupla não está apenas f...errando com a vida dos outros; está, também, ensinando aos filhos que é correto, normal e desejável, prejudicar os outros, não se importar com nada ou ninguém, desde que seja para benefício pessoal. E assim as gerações miseráveis vão-se perpetuando.

O problema não fica nas portas das escolas. Os filhos crescem, ingressam no ensino superior, mas papai e mamãe continuam deixando bem na portinha da facul. Andar uns 10, 15 metros é coisa além da imaginação. Estacionar dentro da sala de aula seria o ideal. E os motivos estão na ponta da língua: o sol está muito forte; está chovendo; está quase chovendo; é rapidinho; ou aquele argumento famoso entre a classe média: sou obrigado a fazer isso porque os vagabundos estão roubando demais e o governo não nos garante segurança, apesar dos impostos que pago!

E os outros que também estão na rua sujeitos a todo tipo de problema — que esperem, desviem, etc. E isso mesmo que haja espaço para estacionar ou que se bloqueie o acesso a um estacionamento. Somando-se ao fato de que Belém é uma cidade em que ambulâncias com sirene acionada não têm prioridade de passagem, penso que vagabundo é um termo bem lembrado, mesmo.

Então parabéns à prefeitura de Belém pela iniciativa. Serão necessárias muitas vidas de homens para que o povo daqui chegue ao nível de cidadania de um protozoário, mas temos que começar em algum momento. Pior seria não começar nunca.

Como assim, Ísis?!

"Cena de sexo é como um balé: 
tem muita técnica 
e esforço por trás."

Ísis Valverde
sobre suas cenas de sexo com Fabrício Boliveira,  no filme Faroeste caboclo

Oi? Como é? Dá para explicar melhor, Ísis?

Sandy curtiu isso.






terça-feira, 28 de maio de 2013

Grande atriz e grande ser humano

Elizabeth Mendes de Oliveira, ou simplesmente Bete Mendes, atriz brasileira, natural do Município paulista de Santos, hoje com 64 anos e no ar, como Olívia, na novela Flor do Caribe. Atriz profissional desde 1966, tendo atuado em uma peça de teatro, 9 filmes e 45 programas de televisão, entre novelas, seriados e especiais.

Aos 18 anos, ingressou na VAR-Palmares (por onde também passaram Carlos Lamarca e Dilma Rousseff), organização de resistência à ditadura. Foi presa duas vezes. Depois disso, assumiu a carreira política e foi deputada federal por dois mandatos. Também exerceu funções junto ao Poder Executivo de São Paulo e Rio de Janeiro. Continua ativista dos direitos humanos. Torturada pela ditadura militar brasileira, não guarda ódio, considera-se feliz e quer trabalhar e viajar mais.

O tipo de pessoa que, por sua coerência e serenidade, nestes dias em que vivemos, merece ser lembrada e ouvida.

Fonte: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/05/atriz-bete-mendes-relembra-tortura-a-pior-perversidade-da-raca-humana.html

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Imagino que este seria o tipo de sistema penitenciário que faria os brasileiros felizes

Uma mulher foi presa por homicídio. Condenada, ganhou o direito de recobrar a liberdade mediante o pagamento de fiança. Mas foi necessário que seu filho, que tinha 4 meses de idade quando foi presa, se tornasse adulto, começasse a trabalhar e economizasse o suficiente. Foram 19 anos de cárcere, motivado não pelo crime, mas pela pobreza.

Ficção de Glória Perez? Negativo: realidade da Índia de nossos dias.

Mas, pelo menos, a assassina não foi solta por uma lei tida como a mais branda do mundo sem o ser, não ganhou saída temporária para se evadir, não progrediu de regime nem livramento condicional, etc. Então eu imagino que o brasileiro médio, lendo esta notícia, pode concluir que direito penal bom é o da Índia.

Felizmente, o amor filial ainda é mais forte do que qualquer direito.

Turma da Mônica Jovem e trollagem

Quem diria, mas já faz quase 5 anos que publiquei uma postagem anunciando a criação da Turma da Mônica Jovem. Falei de minha curiosidade quanto à nova linha editorial, da intenção de fazê-la voltada para o público adolescente e de meu prognóstico de que venderia bastante.

O fato é que nem o próprio Maurício de Sousa esperava o sucesso que veio, como ele admitiu em mais de uma ocasião. A Turma da Mônica Jovem se transformou no maior sucesso editorial do Brasil, tornando-se da noite para o dia a revista mais vendida do país. Mas isso se deveu, em parte, ao fato de que as crianças passaram a consumir a publicação, que originalmente não lhes era destinada. O resultado foi que a Maurício de Sousa Produções se viu obrigada a mudar a concepção do projeto, abandonando os temas e as abordagens mais elaboradas e permanecendo num plano passível de interlocução com a petizada.

Isso explica, em parte, como é possível que jovens na casa dos 15 anos, vivendo em nossos tempos repletos de tecnologia e interações mundiais (e até interplanetárias), sejam ingênuos, bobocas mesmo, num nível irreal. Acho que a família Sousa desistiu de falar de gravidez na adolescência.

O preço dessa decisão foi que as revistas ficaram muito tolas. Mais valia ler as revistas originais, desbragadamente infantis. Pelo menos, eram mais coerentes. Em casa, compramos todas as edições da TMJ; não perdemos nenhuma. Contudo, aos poucos, a curiosidade foi cedendo espaço ao fastio e comecei a me desinteressar. Uma ou outra não terminei ou nem comecei a ler.

Sem dúvida, os roteiros centrados no cotidiano, em vez de aventuras espaciais ou estórias de monstros japoneses (que me irritam profundamente), mostraram-se melhores. Os próprios editores devem ter percebido isso, porque essa proposta tem prevalecido mês após mês.

E eis que a edição mais recente, de n. 57, chamada Veneno virtual, finalmente me agradou. Fala sobre alguém que cria um blog chamado "Castelo do Troll", cuja única missão é criar constrangimentos para os jovens do famoso bairro do Limoeiro.

O mérito desta edição é conseguir demonstrar, de forma realista e plausível, um pequeno recorte do mundinho em que vivemos, nos quais os jovens estão absolutamente dependentes da Internet e por ela desfilam temas fúteis, imbecilizantes e nocivos por outros motivos. Fala-se da perda da privacidade, da necessidade de atenção e da covardia de agredir sob anonimato.

A edição mostrou como as postagens do troll provocaram conflitos desnecessários, humilhação e tristeza, até mesmo para quem, a princípio, gostou de ser exposto. Um modo didático e eficiente, sem ser chato, de descrever essa realidade e mostrar que ela, definitivamente, não é nada boa.

A Turma da Mônica Jovem acertou a mão desta vez e está de parabéns. Revista guardada para quando Júlia for maiorzinha.

Recomeçar

Comecemos uma nova semana de trabalho falando de recomeços, sob uma perspectiva bem própria deste blog:


Boa semana a todos.

domingo, 26 de maio de 2013

Álcool por toda parte

A cada dia que passa fico mais convencido de que sou um homem das cavernas em matéria de atraso. Nunca me ocorreu, e jamais me ocorreria, que uma pessoa pudesse, por livre e espontânea vontade, embriagar-se injetando álcool através do ânus ou da vagina. E, definitivamente, tomar uma atitude dessas, para mim, é algo completamente fora da realidade. Mas sei que não sou parâmetro, porque já considero uma rematada e inexplicável imbecilidade se embriagar de caso pensado, seja lá por que motivo for.

Não consigo compreender porque, em minha limitada visão, as pessoas bebem muito por causa da sensação de prazer provocada pela droga, o que explica o seu consumo por tempo prolongado. Mas usando essas vias, digamos, "alternativas", perde-se o sabor, o momento social relacionado, e a absorção pelo organismo é mais rápida. Em suma, o prazer é substituído tão somente pelo ficar alucinado rapidamente. E muitos querem exatamente isso.

Eu não entendo. Não adianta, eu não entendo e não farei o menor esforço para tentar. Só posso lamentar por essas criaturas infelizes. E desejar que encontrem o que procuram, nem que seja lá no inferno.

O grupo não está sozinho

Desta vez, aquela coluna de negócios me incomodou de verdade. Hoje, foi publicada esta nota:

Pelo segundo ano, a UFPA está participando da 18ª Competição de Julgamento Simulado do Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Em 2012, os alunos e professores da federal receberam o prêmio por ser (sic) a melhor equipe estreante.

Afora o fato de que ninguém pode estar participando "pelo segundo ano" da 18ª Competição, já que ela só aconteceu uma vez, este ano; afora o fato de que o colunista não tem a obrigação de elogiar uma instituição privada que não pagou por uma nota em sua coluna, acredito que a boa informação jornalística deveria, ao menos, mencionar que a UFPA não está sozinha nessa empreitada.

O CESUPA mandou delegações a Washington, para participar das competições do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, nos últimos três anos. Por duas vezes consecutivas, sua delegação foi como campeã da rodada nacional. Na segunda ocasião, a vitória no Brasil foi justamente contra a equipe da UFPA. Nos links divulgados abaixo, é possível acompanhar a evolução do CESUPA no evento e seu histórico de vitórias.

Nenhuma crítica à UFPA, que é minha alma mater e que merece todos os elogios. Mas se o objetivo é informar, então é bom saber que o CESUPA está há mais tempo e com melhores resultados nesse projeto. Faço questão de destacar isso, para fazer justiça aos professores e alunos largamente empenhados nos últimos anos.

Informe-se melhor:

  • http://yudicerandol.blogspot.com.br/2013/03/mais-uma-competicao-de-direitos-humanos.html
  • http://yudicerandol.blogspot.com.br/2012/05/protecao-internacional-de-direitos.html (esta postagem contém outros links)

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Ato de improbidade, não crime

Para os meus queridos alunos de Direito Penal IV, já que estamos falando do tema, o qual integrará o conteúdo de nossa 2ª avaliação: professor que assedia sexualmente alunas não comete crime mas, por trabalhar na rede pública, incorre em ato de improbidade e deve perder o cargo. Foi o que decidiu a 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça.

Minha Nossa Senhora da Porta da Cadeia!

E como se não bastassem os colossais erros de português, a briosa classe que vive de disseminar informação não revela o mínimo conhecimento acerca dos conteúdos abordados nas matérias. E, claro, o direito é um dos campos mais assassinados por essa turma.

A bola da vez é esta impressionante lição sobre prisão do devedor de pensão alimentícia. Quando ele paga o débito, ganha liberdade provisória! Sim, você leu direito: liberdade provisória!


Mesmo que não responda a nenhuma ação penal. Não é o máximo?

"Agradecimentos" ao Portal ORM.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

E de que mais seria?


Nossos amigos, os jornalistas... A quadrilha foi presa com um arsenal de armas. Eu não imaginei outra coisa. Ou você acha que existe arsenal de livros, de quadros, de cupcakes, etc.?

"Agradecimentos" ao Portal DOL

Do punitivismo e suas ironias

"Daqui a pouco vão querer maternidade de segurança máxima."

Frase proferida pelo senador do Amapá Randolfe Rodrigues (PSol), sobre a inclinação do Senado em reduzir a maioridade penal.

O senador ocupou a tribuna para criticar o projeto de lei (em tramitação na Câmara dos Deputados, ainda nem chegou ao Senado) de nova política nacional antidrogas, que não apenas não avança como retrocede, ao persistir no tratamento criminalizante do usuário, além de outros equívocos.

Enquanto os cultores atávicos dos tempos da ditadura e os histéricos religiosos continuarem habitando o Congresso Nacional, será muito difícil avançar na legislação brasileira. Quanto aos desonestos, prefiro nem comentar.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Cada vez pior

Parece que os brasileiros realmente perderam qualquer compromisso com a Língua Portuguesa.

Sempre faço postagens, aqui no blog, apontando bobagens publicadas pela grande imprensa. Mas de uns dias para cá (dias, mesmo) tenho notado uma piora significativa em alguns portais de notícias. O portal G1 é um dos mais afetados. Parece que mudaram os redatores e os novatos, além de escreverem mal, não gostam de fazer revisão. Há equívocos típicos de digitação, uma letra errada, bobagem. Mas há verdadeiros horrores.

Esta reportagem aqui é bem característica: de um lado, há mero equívoco na redação, que poderia ter sido sanado com uma revisão ("quando foi condenada pelos sequestrados de dois bebês); de outro, há um erro de corar de vergonha ("Disse que ele a pediu que vendesse os materiais"). "A pediu", companheiro?! Que diabo de redação é essa, delinquente? E num dos maiores portais noticiosos do país?

Tem que haver seleção...

Muitoboadrasta

Já ensinavam os antigos: quem procura, acha. E quem procura coisas estranhas, pode se surpreender com as bizarrices do mundo.

Foi mais ou menos isso que aconteceu com um sujeito lá na Tasmânia, Estado insular pertencente à Austrália. Quis dar uma de caça-fantasmas, ou imitar o pessoal de Atividade paranormal, e acabou se deparando com outro tipo de monstro.

Acho até que um fantasminha seria melhor.

Limites do habeas corpus

Quando concebido originalmente, o habeas corpus destinava-se a proteger o indivíduo de ilegalidades que comprometiam a sua liberdade de ir a vir, submetendo-o a prisão injustificada. Com o passar do tempo, a mudança de referenciais político-jurídicos, no sentido de fortalecer o indivíduo contra o excesso de poder do Estado, expandiu aquele remédio jurídico para outras situações, que comprometem a liberdade de modo indireto, tais como declaração de nulidade. Se um processo contém nulidade, mas pode redundar numa condenação, então ele ameaça concretamente a liberdade do indivíduo.

Sem surpresa, constatamos que muitos juízes odeiam essa expansão do HC, fazendo de tudo para limitá-lo. Recorrem ao argumento de banalização de seu uso, que parece plausível, mas mal disfarça o interesse em ter menos processos para julgar e em ver menos atos de autoridade questionados publicamente. Mesmo nos dias de hoje, a luta em favor da liberdade não é nada fácil.

Dia desses, o uso do HC sofreu um revés no Supremo Tribunal Federal. Mas o mesmo ministro Marco Aurélio, responsável pela limitação, agora defende o ponto de vista diametralmente oposto. Teve a hombridade de voltar atrás e de admitir a relevância das manifestações da "comunidade jurídica", enquanto muitos acreditam piamente que só os provimentos jurisdicionais têm dignidade para produzir o direito, revelando inacreditável desprezo, p. ex., pela doutrina.

Sob críticas cada vez mais frequentes, às vezes o STF acerta a mão com categoria.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Educar

Aproximando-se dos 5 anos, Júlia anda temperamental. Às vezes, quando se aborrece, chuta objetos ou os atira ao chão. Não tolero esse tipo de conduta, por isso já havia mandado que aprendesse a se controlar e, depois, avisei que haveria castigo. Como não sou de dar dois avisos, hoje ela atirou um objeto longe e foi direto se sentar no corredor, local desde sempre designado como local da disciplina. Reagiu com um choro imediato, sentido, porque "a culpa" era do tal objeto. Como detesto esse papo de culpa e objetos não podem ter culpa de nada, adverti que parasse de transferir responsabilidades e mandei que se calasse.

O choro aumentou, cheio de explicações e reclamações. Avisei que ela não sairia do castigo enquanto não parasse de chorar. Ela então disse a segunda coisa que detesto, nessas horas: "Eu não consigo!" Controlando o aquecimento de minhas células sanguíneas, expliquei que ela deveria aprender e conseguir, pois do contrário não sairia do castigo. "Eu não tenho a menor pressa", sentenciei.

E foi assim que uma bobagem que poderia ter-se resolvido rapidamente se prolongou por uns 20 minutos. Mas eu havia dito, não é? Missão dada é missão cumprida. Quando ela silenciou, perguntei se ela já tinha se acalmado. "Ainda não totalmente", respondeu. Então ficamos na mesma. Voltou a chorar, até que se calou de vez. Tornei a perguntar e, desta feita, ela concordou que não ia mais chorar. Castigo enfim concluído, perguntei se sabia a razão daquilo tudo. Falou do objeto atirado longe. Expliquei-lhe que não era só jogar algo, mas a atitude que isso representa. Ela prometeu se controlar (de novo...).

A partir daí, a pequena ficou em paz, lendo sua revistinha. Uma meia hora depois, fui até ela e perguntei se estava aborrecida comigo. "Por quê?", quis saber. Lembrei-a do castigo. "Não", respondeu. Expliquei como me sentia mal por castigá-la, mas que faria isso sempre que sentisse necessidade. Ela assentiu com a cabeça e aceitou o meu carinho. Pouco depois, quando fui fazê-la dormir, pediu que a abraçasse e cantasse, o que atendi prontamente. Adormeceu em paz, de bem comigo.

Não faltam aqueles que me consideram duro demais com minha filha. Mas ela não apanha, não é maltratada e recebe explicações para tudo que fazemos. O quê e o por quê. O resultado? É uma criança educada, gentil, respeitadora. Tem seus momentos ruins e até péssimos, como qualquer criança, mas no geral do tempo é um amor. Eu realmente acredito que estamos fazendo um bom trabalho com a educação dela. Porque sabemos equilibrar um amor desmesurado com educação, valores e regras.

Aviso aos tolos: Júlia é uma criança feliz, sem traumas. E por que falo em tolos? Porque hoje em dia boa parte das famílias renunciou ao dever de educar. E acredita que o certo é a libertinagem, o abuso, a subversão de valores. Famílias que passam a mão na cabeça de seus meliantes, encobrem erros e abrem guerra contra quem não se prostra, de quatro, diante de seus reizinhos. Gente responsável por muito dos dramas que nossa sociedade tem enfrentado.

A educação é um dever de todos, mas é um dever precípuo da família, onde ela começa e atua com mais força e por mais tempo. É nisso que acreditamos. E por isso estamos criando uma futura cidadã, se Deus quiser.

Não posso dizer que lamento pelos outros. Na verdade, pelos erros de quem não educa lamentamos e lamentaremos todos nós.

Bem a propósito: http://revistapaisefilhos.uol.com.br/nossa-crianca/educacao-com-coerencia-nao-causa-trauma

Juiz de paz convicto

É paraense de Redenção (se não de nascimento, ao menos de atividade) o juiz de paz que teria renunciado à função para não ser obrigado a realizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo, porque isso "fere princípios celestiais". O caso ainda está no disse-me-disse, porque o cartório do Único Ofício daquela comarca não confirma a história narrada à imprensa pelo próprio protagonista.

Os ativistas vão espumar pela boca mas, se quiserem saber, José Gregório Bento (75, ao lado em foto de João Lúcio) está corretíssimo. Não aprendemos com nossos avoengos a máxima "os incomodados que se retirem"? Pois é: ele se retirou.

"Não há lei dos homens que me obrigue a fazer aquilo que contrarie os meus princípios."

A escusa de consciência é reconhecida pelo direito, desde a Constituição de 1988. É permitido aos rapazes se recusarem ao serviço militar obrigatório, por motivos de convicção política ou religiosa. Por razões semelhantes, médicos podem recusar atendimento a pacientes, se não houver risco de morte ou de danos relevantes. Leis amparam os profitentes de religiões que impedem a existência social em certos dias e horários da semana. Se assim é, não se pode criticar uma pessoa por pleitear o exercício de uma convicção.

José Gregório é pastor evangélico e por isso considera a homossexualidade antinatural e atentatória a Deus. Abstraindo o desacerto de suas crenças, errado estaria, a meu ver, se permanecesse na função e ali discriminasse os casais homossexuais que procurassem seus serviços. Em vez disso, fez o certo: se não concorda com um ato que reconhece como obrigatório, retira-se e permite que o direito seja exercitado através de outra pessoa.

Podemos repudiar sua decisão no mérito, mas temos que reconhecer que ela é coerente. E, convenhamos, todo mundo pode ter uma ideologia para viver.

Mais besteiras deles, os jornalistas

Seguindo neste meu estúpido projeto de vida que é criticar quem tem enorme acesso à comunicação pública e o desperdiça, escrevo esta postagem sob esta inspiração:


Antes de mais nada, tomara que minha esposa não leia esta, porque ela sabe o que penso de Luize Altenhofen (suspiros)...

E o que se poderia dizer de mais esta manchete que enaltece a futilidade e a inutilidade em torno dos tais "famosos", o que parece ser a principal pauta da imprensa, hoje?

Posso dizer, em primeiro lugar, que mesmo havendo opções para confirmar o título, o estagiário escolheu uma foto que não mostra a barriga da moça. Inteligente, não?

Mas acima de tudo, e foi isso que chamou a minha atenção, apesar de muitos afirmarem que cerveja dá barriga (o que outros consideram um mito), nunca soube que alguém pudesse ganhar pneus por tomar uma cervejinha só. Ou duas ou três, num dia praia. Do que é feita essa p... orcaria? Células adiposas de depósito instantâneo, por acaso?

Somos tão jovens

Postagens anteriores deste blog revelam que eu parto do pressuposto de que críticos de cinema (na verdade, críticos em geral) são, antes de tudo, uns chatos pernósticos. Isso vale tanto para os profissionais quanto para os que se arvoram na função. Meu argumento principal é de que constitui um erro, quando não verdadeira má fé, tomar opiniões pessoais como parâmetros de certo e errado. Por isso, todas as manifestações sobre cinema que faço neste blog devem ser encaradas como meras impressões de um espectador, que gostou ou não do que viu.

Já havia lido algumas críticas sobre Somos tão jovens, longametragem de Antônio Carlos Fontoura, que atua como cineasta desde 1966 (seu provável maior feito até aqui foi A rainha diaba, de 1974) e também é produtor e roteirista, tendo trabalhado também para a TV. Algumas simpáticas, outras bastante ácidas. Uma crítica que me pareceu razoável pode ser lida no Cinema em Cena.

Tendo visto o filme ontem, finalmente, tenho as minhas próprias opiniões. Mas começo me perguntando: pode um fã servir de crítico? Se ele é inclinado a legitimar o objeto e o filme fala bem desse objeto, há idoneidade em sua aprovação? Esta é uma questão que não me interessa responder e aqui comparece apenas para advertir quanto a minha tendência previsível a aprovar o filme e não perceber seus defeitos.

Eu gostei muito do longa. Depois de vê-lo, percebi que boa parte das críticas que lhe foram destinadas são indevidas. Falou-se, p. ex., que ele pecava por omitir aspectos importantes da vida de Renato Russo, tais como o filho que teve, sua vida como homossexual e a AIDS. As críticas, a princípio, pareceram-me plausíveis, mas agora se me afiguram tolas.

Assim que a projeção começa, uma legenda informa: "Brasília 1976-1982". Pronto: foi delimitado um recorte temporal muito específico, dentro do qual não havia filho nem AIDS e por isso, obviamente, não havia razão para incluir esses temas no roteiro. Havia a homossexualidade, sim, e o filme deixa claro que Renato preferia meninos, embora, em uma cena com a mãe, ele diga que mais num sentido afetivo do que fisiológico. Os ativistas da causa gay espumaram de ódio. Pois que espumem. Li a biografia de Renato Manfredini Jr. e assisti a uma peça biográfica, as quais revelam que Renato era introspectivo demais; ele se apaixonava, mas não ia à luta. Seu temperamento era mais de se trancar no quarto e ficar sofrendo. E é isso que Somos tão jovens mostra. Adequado, portanto. Não havia por que ir além num filme que se dispõe a mostrar "como tudo começou" e termina mostrando imagens reais, de arquivo, do primeiro concerto comercial da Legião Urbana, no Circo Voador (RJ).

Algumas críticas são pertinentes, no entanto. De fato, e sobretudo na primeira metade da projeção, os diálogos soam artificiais. O roteirista Marcos Bernstein (o competente responsável por obras de valor como Terra estrangeira, Central do Brasil, Zuzu Angel e Chico Xavier) parece obcecado por criar easter eggs para os fãs identificarem e assim obter, à força, a empatia do público.

O resultado são diálogos bobos, como quando Renato fala que sente um "tédio com um T bem grande" ou, durante uma festa requintada, conversando com Aninha. Ela: "Festa estranha." Ele: "Gente esquisita." Como bem disse o crítico Pablo Villaça, uma linha Forrest Gump. E até os competentes atores pareciam iniciantes, daqueles que falam como se estivessem lendo o texto. Depois melhora.

Como purista, algo que me incomodou foi a criação de um personagem totalmente fictício, Ana. Por ser o segundo personagem mais importante do filme, incomodava-me ser uma licença poética, um recurso facilitador para explorar certos aspectos da alma insulada e difícil do poeta. Mas a personagem é cativante (parabéns à adorável Laila Zaid, no melhor papel em seus 9 anos de carreira) e caiu como uma luva sobre a letra de Ainda é cedo, uma das melhores sequências. Bernstein acertou a mão nessa hora.

O elogio final é óbvio. Fica para Thiago Mendonça, que encarnou com dignidade e competência um artista que morreu quando o ator tinha apenas 16 anos e sabe lá se gostava de rock.

Mendonça foi elogiadíssimo por sua composição corporal, além da semelhança física convincente (Renato era perceptivelmente mais esguio). Fiquei o tempo inteiro esperando para vê-lo arrumar os óculos e roer as unhas (não percebi o primeiro gesto e o segundo ficou concentrado basicamente numa única cena), atitudes que, segundo familiares de Renato, ele reproduziu muito bem. Mas o que me impressionou mesmo foi o modo de falar.

Com todo o respeito, Renato às vezes falava como uma bichinha afetada (não encontrei um jeito mais delicado de dizê-lo, sem prejuízo da compreensão), o que pode ser percebido nas gravações ao vivo. Na cena em que o protagonista, furioso, tenta explicar o significado da letra de "Química" para o baterista Fê Lemos, a despeito de a voz do ator não ser tão grave quanto a do cantor, pode-se perceber a mesma inflexão. Podíamos acreditar piamente que estávamos olhando uma imagem de arquivo.

Meu irmão, com sua verve para detonar tudo e todos, detestou o filme. E aplicando uma de suas miopias, que conheço bem, manifestou menosprezo pelos garotos de Brasília, por serem playboys, filhos de altos funcionários públicos ou de diplomatas, com seus privilégios e estudos no exterior, que descambariam para a rebeldia sem causa.

Eu também detesto playboys. Mas uma coisa verdadeira foi dita pelo personagem Hermano Vianna: aquele movimento roqueiro só poderia ter nascido em Brasília. Trata-se de uma questão de conjuntura. Se você acredita em talento, que uma pessoa pode simplesmente retirar da alma as mais belas obras em qualquer campo, problema seu. Virtuoses existem, mas a exceção só confirma a regra: para ter sucesso, na arte como em outras áreas, você precisa de estudo, treino, técnica e recursos adequados. E qual moleque de garagem poderia ter uma guitarra Gibson [obrigado, Marajoara] como a de Herbert Vianna ou a bateria sei lá de que marca, importada de Londres, como a de Fê Lemos? E ao mesmo tempo ter a cultura, as influências, ser viajados e conhecer a vanguarda musical mundial, etc.? Tinha que ser gente daquele tipo. Paciência. Eu jamais poderia.

Enfim, eu sou fã da Legião Urbana e particularmente de Renato Russo. Por isso, emocionei-me bastante em algumas cenas. Nada de especial. Eu me emocionei por questões minhas, que mais ninguém compreenderia. A canção "Por enquanto", p. ex., me provoca saudade de meus colegas de faculdade. Sinto falta deles e isso me tocou na hora. Outras passagens me comoveram por razões diversas, sempre íntimas.

Este é o poder dos poetas: falar e escrever, produzindo mensagens que serão compreendidas por cada um a seu modo, às vezes errando o alvo, às vezes acertando em cheio. Quando acertam, você ama e se devota. Passa a gostar até do que não é tão bom, seja uma parte do trabalho do artista, seja um filme sobre ele. Somos tão jovens é assim: vá pela emoção.

Lutando por um parque?

Mais um round na atuação da mídia em torno de um empreendimento incerto e controverso. Aquela coluna de negócios, ontem, além de anunciar pela enésima vez a inauguração de certos estabelecimentos, saiu-se com esta:

A luta para transferir para outro local a pista do Aeroclube, hoje no coração da cidade, é antiga, oficialmente desde 1989, na Câmara, por iniciativa do então vereador Nelson Chaves. Só que agora a campanha volta à tona ganhando a cada dia adesões importantes. Local ideal para um grande parque da cidade.

Então vamos às ponderações:

Admito minha ignorância em relação a essa "luta" ou "campanha" para desalojar o Aeroporto Brigadeiro Protásio de Oliveira (e não apenas Aeroclube, como redigido). O que tenho dito, aqui no blog, é de minha percepção quanto a setores da imprensa estarem plantando ideias na cabeça das pessoas em geral, para favorecer a indústria da construção civil. Que esse movimento tenha começado há muito tempo, na Câmara Municipal, não faz a menor diferença: quantos vereadores você já conheceu cuja única razão de seus mandatos era se dar bem, intermediando interesses privados? Não digo que era o caso de Nelson Chaves, do qual nada sei. Meu argumento é que ingerência de vereador, por si só, não confere dignidade a causa alguma.

Se a tal campanha angaria "a cada dia adesões importantes", por que nenhuma dessa adesões foi nominalmente citada, a fim de sabermos do peso e da hombridade de seus adeptos?

Mas o que realmente me impressionou foi a afirmação de que o objetivo de remover o aeroporto é instalar, no local, um parque! Um grande parque! De repente, não mais que de repente, a campanha é para proteger o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida das pessoas! Você acha que eu acredito? Um parque totalmente acessível ao público, em vez de ser mero paisagismo de empreendimentos privados, uma torre aqui, outra ali, piscinas e saunas cercadas de muito verde? Duvido.

Até porque, se o objetivo fosse mesmo esse, a mídia de negócios não estaria minimamente interessada.

Antecedentes:

  • http://yudicerandol.blogspot.com/2013/04/uma-nota-inocente-sobre-um-perigo.html
  • http://yudicerandol.blogspot.com/2013/05/uma-materia-inocente-sobre-um-perigo-ja.html
  • http://yudicerandol.blogspot.com/2013/05/nao-privatizacao-da-sacramenta.html

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Fãs valentes

Existe uma coisa no mundo que a Disney ama: dinheiro, claro. E para ganhar dinheiro a rodo, topa qualquer parada, inclusive não ser coerente com as suas próprias propostas. Foi assim que, há alguns dias, a empresa se envolveu em um imbróglio com os fãs e com Brenda Chapman, codiretora e corroteirista do longametragem Valente. Tudo porque, ao oficializar Merida como a 11ª princesa, pretexto para sair vendendo toda uma nova gama de produtos licenciados, promoveu uma re-estilização dos traços da personagem, tornando-a mais adulta e sensual.

Ocorre que o grande mérito de Merida era, justamente, não ser fútil, babaca e ridícula como a maioria das demais princesas. Trata-se de uma menina de 16 anos, cujo comportamento é compatível com uma menina de 16 anos: sequiosa de liberdade e autonomia, agitada, tenaz em suas preferências, capaz de fazer bobagens imensas sem pensar nas consequências e, de quebra, despreocupada com a aparência e avessa à possibilidade de os seus planos serem destruídos por um casamento arranjado.

Ao suprimirem seus traços infantilizados e sua atitude aventureira, transformando-a numa princesa com jeitão tradicional (uma mulherzinha à espera de um príncipe belo e forte), todo o esforço criativo do projeto foi atirado ao lixo. Especialmente porque a publicidade do filme foi construída sobre essas características peculiares. Que eu me lembre, a equipe levou 5 anos para chegar à aparência final da personagem.

Felizmente, nem tudo está perdido e o público caiu matando. Recorreram a um site de petições online e pediram que a Disney voltasse atrás. Pressionada, a empresa capitulou. Como boa sem vergonha, sem prestar nenhum esclarecimento. Apenas voltou atrás. Autocrítica? Claro que não. Ela foi ameaçada de boicote. No final, prevaleceu a aparência original de Merida, pelas mesmas razões financeiras que determinaram a mudança.

Motivo ruim, resultado bom. Ao menos isso. Parabéns aos manifestantes.

Saiba mais: http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/lifestyle/2013/05/16/325990-apos-polemica-disney-retoma-versao-original-da-princesa-merida

Sobre o filme e minha aversão às princesas: http://yudicerandol.blogspot.com.br/2012/07/valente.html

quinta-feira, 16 de maio de 2013

O anunciado e o verdadeiro

Fato 1: a saúde pública em Belém é um horror e enfrentar esse caos deve ser prioridade de todo gestor público.

Fato 2: a situação do Hospital de Pronto Socorro Municipal é especialmente grave, porque devido ao tipo de atendimento ali prestado e do excesso de demanda, o espaço se torna o cenário ideal para dramas humanos superlativos.

Resulta daí que todo candidato a prefeito, em campanha, promete mundos e fundos na área da saúde e sempre se concentra de modo especial no HPSM. Se eleito, alguma providência precisa ser tomada. Digam o que disserem, o único prefeito que agiu sensatamente nesse campo foi Edmilson Rodrigues, que construiu do zero e pôs para funcionar o Pronto Socorro do Guamá, diminuindo um pouco a pressão sobre o Mário Pinotti, além de descentralizar os serviços de urgência e emergência.

Depois dele, veio aquele que não merece ser nomeado e que dispensa apresentações. Logo que assumiu, tomou uma decisão pirotécnica: desapropriou o Hospital Sírio Libanês para ali instalar um novo pronto socorro. E o que aconteceu? O hospital foi "fechado para readequação" e nunca mais abriu suas portas, reduzindo a quantidade de serviços de saúde disponíveis na cidade. O novo PSM jamais foi instalado e o dinheiro desembolsado pelo Município não chegou à atividade-fim, porque os antigos donos do Sírio Libanês tinham débitos trabalhistas e previdenciários, então o dinheiro foi bloqueado. Foi o primeiro grande episódio de malversação de recursos públicos da era maldita.

Aí chegamos à gestão de Zenaldo "Não Sou Mágico" Coutinho que, como bom tucano que é, está perdendo a oportunidade de fazer um bom governo. E olha que, depois daquele outro, até uma ameba raquítica conseguiria passar a impressão de ser uma grande administradora pública. Afora retirar entulho dos canais e capinar ruas, até agora a atual gestão não disse a que veio. Mas já prometeu muito. Além de anunciar medidas altamente questionáveis, como alugar um prédio, que deveria ser um hotel, para ser a nova sede da prefeitura, uma operação cara e controversa que, felizmente, não se confirmará. O último anúncio foi de que a prefeitura se instalará em um prédio ocioso da Caixa Econômica Federal, cedido, ou seja, sem custos com aluguel. O rentável aluguel de um imóvel para sediar a AMUB, entretanto, foi confirmado.

E aí chegamos ao tema desta postagem: o anúncio de que o Município pretende comprar, por 100 milhões de reais, com recursos obviamente federais, o imóvel do primeiro Hospital Porto Dias, onde deveria ser instalado o novo PSM, permitindo o fechamento do anterior. A primeira pergunta a fazer: é sensato apenas transferir a casa de saúde, sem aumentar a oferta de leitos e serviços? Mas outras perguntas se avolumam. Afinal, o caso poderia ser tratado como inexigibilidade de licitação, pela inexistência de outro hospital para comprar. Deus me livre fazer intriga, mas isso poderia facilmente mascarar uma ação entre amigos.

O negócio cairia como uma luva para os donos do Porto Dias, que construíram um novo prédio colossal e ficaram com o primeiro algo ocioso. Vendê-lo seria a melhor opção. Melhor para eles. Mas seria bom também para o interesse público? Não se saberá enquanto não forem respondidas várias perguntas. Em vez de respondê-las, o prefeito mandou colocar no site institucional que o Ministério Público Federal, Ministério Público do Estado, entidades médicas e demais responsáveis já teriam aprovado a compra do hospital. Coisa de político: dar o incerto como favas contadas, a fim de colher dividendos políticos sobre uma mentira.

Texto postado anteontem, contudo, já se pronuncia de outra forma, admitindo que a operação ainda sendo avaliada pelos órgãos competentes (não foi possível copiar o link para colocá-lo aqui; acesse www.belem.pa.gov.br e procure em "Notícias"). Nesse meio tempo, quem teve o nome citado trata de desmentir o prefeito. É o caso do MPF, como mostra esta reportagem. Segundo o Procurador Regional dos Direitos do Cidadão, Alan Rogério Mansur Silva, qualquer decisão deve ser precedida de esclarecimentos sobre a eventual existência de alterativas de compra, condições dos equipamentos (a compra seria com "porteira fechada" e há rumores de que faltariam equipamentos essenciais, nominalmente um tomógrafo) e até mesmo a destinação a ser dada ao Mário Pinotti.

Nada como repor um pouco da verdade dos fatos. Muita gente morre por carência de atendimento médico adequado. Não dá para os espertos ficarem fantasiando em torno de coisa tão séria.

Acréscimo em 10.6.2013:
Os enfermeiros também demonstraram sua posição.

Esquerda e direita

Muito boa a crítica do jornalista Rodolpho Motta Lima (leia aqui), sobre ser de esquerda ou de direita, que alguns ingênuos insistem em dizer que está superada. Aliás, alguns ingênuos ou mal intencionados de direita afirmam estar superada.

É só uma opinião, não uma descoberta da pólvora, mas ajuda a colocar a questão em termos.

A hora de acordar dos advogados

No meio jurídico, a principal pauta desde ontem foi o comentário infeliz (pra variar) do Min. Joaquim Barbosa, atual presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, que durante sessão na qual se discutia o horário de atendimento do judiciário paulista aos advogados, reduzido para começar apenas às 11 horas da manhã, disse "Mas a maioria dos advogados não acorda lá pelas 11 horas, mesmo?"

Na frenética sociedade atual, dormir até tarde é coisa de gente desocupada. Eu mesmo costumo dizer que é coisa de vagabundo. Tenho pessoas na família que dizem precisar de pelo menos 8 horas de sono para ficarem bem no dia seguinte. Costumo olhar com desprezo esse tipo de afirmação — e nem é porque durmo em média quatro horas e meia todos os dias, mas por considerar uma pretensão fora da realidade.

No mundo real da advocacia, às 8 da matina você precisa estar de prontidão, seja no escritório, seja em algum outro lugar. Um advogado pode ter uma audiência marcada para as 8h. Ou pode nem ter dormido, atravessando toda a madrugada numa delegacia, como certa vez aconteceu comigo. Afinal, trata-se de um profissional liberal; logo, se não trabalhar, não ganha dinheiro. Não há depósito em conta garantido no final do mês, nem estabilidade, vitaliciedade ou aposentadoria integral. Natural, portanto, que a classe tenha reagido com tanta indignação ao que, depois, o próprio ministro classificou como uma "piada".

Piada, é? Curioso como ninguém conhecia esse inusitado senso de humor do supremo presidente. No geral do tempo, ele costuma mostrar-se sempre carrancudo, de rosto contraído, fazendo comentários ácidos e acusatórios sobre os mais variados assuntos. Não mais que de repente, ele redescobriu a alegria de viver justamente quando teve a oportunidade de menosprezar os advogados. Sintomático. A mesma pessoa que humilhou juízes representantes de classe em sua sala, recentemente, agora quer merecer a complacência geral. A generosidade, que não manifesta aos outros, quer para si.

Quem não é advogado acha que está havendo muito barulho por nada. Mas a verdade é que o clamor deste momento não é consequência de um evento isolado, mas de um somatório de episódios que revelam um histórico de desrespeito aos advogados e de incapacidade de tolerar divergências, permeada pela aparente convicção de que somente os outros é que possuem defeitos. O julgamento do processo do "mensalão" foi a maior demonstração do que digo.

Em agosto de 2010, um Barbosa em licença médica por problemas crônicos na coluna vertebral há mais de três meses foi fotografado em uma festa de aniversário em um point de Brasília. Também foi fotografado tomando um gorozinho num bar. Na época, o caso teve repercussão porque ele era o relator de mais de 13 mil processos, os quais estavam estagnados porque o ministro não estava em condições de trabalhar, sequer para despachos de mero expediente. Ele, claro, se defendeu e se indignou.

Então é isso. Quando os nervos já estão à flor da pele, as mínimas atitudes (e sobretudo as que não são nada pequenas) provocam reações elevadas. Motivos há. Eu não acredito em piada. Aqui ninguém é inocente.

Mais: 

Estude melhor

Meu mundo acabou de ruir. Boa parte dele, ao menos. Uma pesquisa divulgada pela Association for Psychological Science apontou técnicas de estudo consideradas pouco eficientes. Quer saber quais são? As que você usa, provavelmente. As que eu uso, inclusive por recomendação dos meus professores de ontem e de hoje, em alguns casos até com certo grau de exigência.

Grifar o texto e fazer resumos foram consideradas técnicas ineficazes. Tenho utilizado ambas de maneira sistemática e acredito que me sejam úteis. Grifar facilita encontrar informações importantes, que serão posteriormente utilizadas para preparar aulas, responder questionários, montar seminários, etc. E os resumos são especialmente úteis se você tem um trabalho importante para fazer, tais como monografias, dissertações e teses. Como lemos muita coisa e das mais variadas origens, os resumos, se devidamente indexados, ajudam a catalogar informações e podem ser usados para a redação final do texto, sem a necessidade de consultar novamente a obra original, o que pode fazer toda a diferença se se trata de uma obra que precisamos devolver.

Fazer exercícios práticos e estudar aos poucos, mas de forma constante, foram indicadas como técnicas mais adequadas. Com efeito, a prática sempre ajudou a melhor fixação de conteúdos, porém isso esbarra nas áreas excessivamente abstratas. Já o estudo gradativo chega a ser uma obviedade, que a generalidade dos alunos só não aplica por preguiça, mesmo. Um pouco a cada dia é bem melhor do que se trancar em casa e maltratar o cérebro por horas a fio, inclusive deixando de dormir, na véspera da prova ou do prazo.

Em suma, entendi que técnicas menos eficientes não implica em inutilidade; apenas que elas não surtem tanto resultado quanto gostaríamos e que poderíamos aprender melhor de outras formas.

No mais, não adianta tentar fazer formas de bolo: todo mundo tem o seu modo e o seu tempo de aprender. O melhor rendimento escolar ou acadêmico passará pela compreensão de nossas necessidades e aptidões. Com base nessa percepção, podemos montar um programa de estudo realista.

Matéria no Brasil: http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/05/15/grifar-e-forma-de-estudo-pouco-eficiente-confira-melhores-tecnicas.htm

Matéria original (em inglês): http://psi.sagepub.com/content/14/1/4.full?ijkey=Z10jaVH/60XQM&keytype=ref&siteid=sppsi

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Júri simulado e competição

Na tarde de hoje, os alunos integrantes da Clínica de Direitos Humanos do CESUPA farão um julgamento simulado, no auditório Prof. Ney Sardinha. Trata-se de atividade de treinamento para a 18ª Competição de Julgamento Simulado do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, evento do qual nossa instituição participa pelo terceiro ano consecutivo.

O evento internacional ocorrerá entre os dias 19 e 24 de maio, no Washington College of Law. Este ano, os competidores debaterão sobre direitos LGBTI.

Desejo à equipe muito sucesso no treinamento de hoje e na competição da próxima semana.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Ele jura

Um juiz do Rio de Janeiro, responsável pela 1ª Vara de Registros Públicos (nas comarcas com mais de uma vara de registros públicos, a 1ª é a responsável por casamentos), concentra em si as decisões sobre os pedidos de habilitação para casamento e tem negado sistematicamente os pedidos de casais homossexuais. Ele jura que suas razões são exclusivamente jurídicas. Ele jura, mas eu gostaria de saber qual a religião dele.

É um caso por si só interessante. Mas se você tiver sangue frio, presença de espírito e senso de humor, leia os comentários. Não há adjetivo que os qualifique!

Crime sexual único

A Lei n. 12.015, de 2009, que promoveu intensas mudanças no título do Código Penal que versa sobre delitos sexuais (hoje, crimes contra a dignidade sexual), foi elaborada para aumentar o rigor punitivo, mas a habitual falta de zelo do legislador trouxe algumas consequências diametralmente opostas. Estas consequências não resultam do texto expresso da lei, mas são implicações do modo como devem ser interpretadas e aplicadas.

O mais importante desses efeitos tem a ver com ataques nos quais o agente realiza dois tipos de cópula contra a vítima: p. ex. vaginal e oral ou vaginal e anal. Antes da mudança da lei, essas condutas ensejavam a responsabilização por dois crimes: estupro, em concurso material com atentado violento ao pudor. Logo, duas penas de 6 a 10 anos de reclusão.

A alteração legislativa, contudo, unificou os delitos de estupro e atentado violento ao pudor, de modo que a prática de diferentes modalidades de ataque sexual devem ser tratadas como crime único. A diversidade, natureza e intensidade dessas condutas devem ser ponderadas para fins de cálculo da pena, tão somente. Em suma, nas mesmas hipóteses anteriores, deve ser imposta uma única sanção de 6 a 10 anos de reclusão.

Tão logo a norma entrou vigor, imaginei que veríamos uma enxurrada de revisões criminais, pedindo a aplicação retroativa da lei mais benéfica. Por alguma razão que jamais compreendi, entretanto, isso não ocorreu. Não posso afirmar como as coisas aconteceram no restante do país, mas aqui no Pará o movimento não ocorreu. Eu mesmo, que de vez em quando pego uma revisão criminal para examinar, nunca me deparei com nenhuma sobre este tema. Isso não significa, todavia, que a matéria não tenha sido debatida em outros locais, como demonstra recentíssimo precedente do Superior Tribunal de Justiça.

No precedente, foi promovida a unificação dos delitos e determinado ao juízo da execução penal o cálculo da nova pena. Isto pode estimular outros processos semelhantes. Até porque a expectativa é que as duas cortes superiores entendam definitivamente no mesmo sentido.