quinta-feira, 31 de julho de 2014

Senzala do Murutucu

Reproduzo na íntegra a matéria do Diário do Pará pelo grande interesse que tenho no assunto e na pesquisa do Prof. Diogo Costa. O Murutucu (que eu saiba, esta é a grafia correta) é pauta este blog.

Senzala do Murucutu pode ter sido encontrada

Quinta-Feira, 31/07/2014, 06:17:02 - Atualizado em 31/07/2014, 06:18:21


Senzala do Murucutu pode ter sido encontrada (Foto: Alzyr Quaresma)
Pesquisadores podem ter localizado a senzala do histórico engenho do Murucutu (Foto: Alzyr Quaresma)
















Ao acordar todos os dias você nem se percebe que está escrevendo a história. O que hoje é algo comum do cotidiano pode se tornar peça rara para entender o modo de vida de um povo. As descobertas realizadas nas ruínas do engenho do Murucutu, em Belém, mostram que itens como um cachimbo, uma moeda, pedaços de objetos de metais e vidro e que parecem simplórios aos olhos leigos são tesouros que, muito mais do que o valor econômico que carregam, são fragmentos de uma história que alguém não contou e que clama por uma preservação responsável do passado.
Após quatro semanas de escavações durante o mês de julho, a equipe de Diogo Costa, arqueólogo e professor da pós-graduação em Antropologia da UFPA, conseguiu mapear o local onde seria a possível senzala do engenho, também de uma lixeira que haveria no local e itens variados que agora serão estudados em laboratório. “Todo o material encontrado como louças, vidros, peças em metal a gente usa para investigar o cotidiano das pessoas que moravam aqui. Com eles talvez possamos entender melhor questões sobre as práticas de alimentação da época, através da análise do talher, ou os vidros podem nos ajudar a identificar práticas de higiene. Os objetos de metal podem ser o caminho para verificar os tipos de usos medicinais que eram feitos. No caso da louça podemos ver se era de valor alto ou baixo, e qual era o status econômico das pessoas que moravam aqui. Este cotidiano não fica registrado em documentos históricos, porque faziam parte de um cotidiano. Hoje mesmo, se você olhar o lixo de uma pessoa pode descobrir o que ela fez o dia todo. É esse princípio que a gente usa na arqueologia”, esclarece o pesquisador.
O projeto dele partiu de um objetivo - encontrar o que seria a senzala do engenho - e felizmente há muitas evidências de que o local realmente tenha sido localizado. De brinde, os pesquisadores encontraram a lixeira e outros itens. Com uma foto de 1860 nas mãos e estudos que indicavam o que seria esse espaço, ele partiu para a escavação.
“Houve então a confirmação de que existia um prédio em uma área próxima de onde fica a capela. A princípio não sabemos qual era a função dele dentro do engenho, mas depois do laboratório é que vamos confirmar se era realmente a senzala ou não. A ideia agora é analisar este material e tentar descobrir se pertencia só aos escravos indígenas, ou aos africanos, ou a ambos, além de responder seeles moravam juntos, o que eles faziam no dia a dia”, detalha o arqueólogo.
“O material encontrado ainda vai ser analisado em laboratório e isso pode trazer resultados que nem imaginamos, mas ainda vai demorar no mínimo mais seis meses de estudos. O que podemos adiantar agora, com o encerramento desta etapa de campo, que corresponde a apenas 10% do trabalho que fazemos na arqueologia, é a atenção que estamos conseguindo a respeito deste sítio.
Queremos provocar as pessoas a manter esse espaço para ser usado como estudo, porque o uso do espaço ajuda na preservação. Manter simplesmente uma coisa preservada, mas fechada e longe das pessoas, não faz com que ela se torne parte da vida delas”, explica o professor que levou para as escavações de sua pesquisas os acadêmicos envolvidos no projeto, outros pesquisadores e os graduandos e pós-graduandos de Antropologia da UFPA em Arqueologia Histórica, transformando a iniciativa em um sítio-escola para treinamento dos alunos no método que trabalha as descobertas em sítios pós-coloniais, após a chegada dos europeus.
O projeto continua e a proposta é que se perdure por mais dois anos e com mais escavações. “Vamos usar esse espaço como estação científica para muitos alunos não só da arqueologia, mas de outras áreas. A arquitetura pode trabalhar com as ruínas, o pessoal da geologia com o material que está sendo extraído daqui, os biólogos poderiam trabalhar com o manejo da área, já que esse lugar foi usado a partir de 1930 como campo de estudo da Embrapa, então isso é uma história ambiental do cultivo de alimentos também”, planeja Diogo.

Pesquisa terá mapa preciso da área

Em parceria com a equipe de pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, o projeto de pesquisa arqueológica nas ruínas do Murucutu ganhou equipamentos que ajudaram na realização do levantamento topográfico da área e mapeamento das estruturas que ainda estão erguidas. “Com isso vamos ter um mapa bem preciso dessas evidências. Tudo que foi descoberto nas escavações já vai estar relacionado com esse mapeamento, o que é um avanço fantástico na documentação do sítio do engenho do Murucutu”, comemora Fernando Marques, pesquisador em arqueologia do Museu Emílio Goeldi, e que há 31 anos tem contatos com pesquisas naquelas ruínas.
“Experimentamos equipamentos da geofísica para não utilizar escavação, um GPR, que é uma espécie de radar que passa e identifica as anomalias na terra. Percebemos uma área que apresentou bastante anomalia e que indicou a necessidade de escavação neste setor.
Outro equipamento chamado magnetrômeto também indicou as anomalias na área. Além disso, a fotografia que foi feita por Felipe Fidanza, que se estabeleceu em Belém no século 19, documenta o aspecto do engenho neste período e mostra a casa grande (que fica atrás da capela e que depois foi demolida em um acidente em 1995), a própria capela e um prédio que supostamente seria a senzala, praticamente neste local, compatível com as anomalias registradas. A fotografia é uma fonte fiel, pois, na época, não era manipulada e por isso é muito fidedigna. Ainda bem que Fidanza fez várias fotos de Belém desta época e felizmente esteve no engenho”, acrescenta o arqueólogo.
“As fotos mostram coisas interessantes, como o traço da casa grande, bem característico de um dos seus proprietários, o arquiteto italiano Antônio Landi. Ele comprou este lugar em 1776 e morreu aqui em 1791. Por isso aqui também tem este aspecto arquitetônico a ser destacado e que contribui mais ainda para a valorização deste lugar. Existe até uma hipótese de que o corpo dele possa estar aqui, mas também há notícias de que ele estaria enterrado na igreja de Sant’Ana, que era a igreja de sua predileção, mas isso são coisas ainda a serem investigadas e que a história pode responder e subsidiar para a pesquisa da arqueologia poder comprovar futuramente”, projeta o arqueólogo.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

A ética de não matar

Não é uma questão religiosa; é mais simples do que isso: é humano. No mundo mais simples em que nasci, tão distante que parece ter sido em outra vida, aprendi que toda vida deve ser valorizada. É o tal direito natural, que possuímos simplesmente por sermos humanos. Aí o tempo passa e muitos de nós aprendemos a respeitar os animais. Maus tratos contra eles agora despertam reações furiosas. Paradoxalmente, a vida humana vale cada vez menos.

Para mim, trata-se de uma questão fechada. Não me importa quão criminoso o indivíduo seja: não me cabe matá-lo. Precisamos ser melhores do que ele. Precisamos ser civilizados, sensíveis, humanos, como ele não conseguiu ou não quis ser.

Não me importa quem invadiu a terra alheia, se é que se trata disso, mesmo. Não posso exterminar centenas, milhares de vidas inocentes em nome de... do que quer que seja. Buscar justificativas ou minimizações para isso é naturalizar a brutalidade, como estamos cada vez mais acostumados a fazer.

Para mim é uma questão fechada: não devemos matar. Simples assim. Quem se dá ao trabalho de pensar em qualquer coisa que comece com "mas..." deve fazer um urgente exame de consciência, caso a possua. É um rompimento com a espécie. Quando aceitamos a morte do primeiro, assinamos o cheque em branco para todos os demais que virão. Porque os motivos justificáveis sempre aparecerão. Sempre.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Santander eleitoral

É provável que o dia em que mais senti raiva de Lula na minha vida tenho sido aquele em que vi sua imagem, na TV, como sempre se ufanando da economia nacional, mas usando um argumento que me enojou: os bancos e os grandes empresários nunca lucraram tanto como em seu governo. Ah, tá.

Ao que parece, Dilma Rousseff não foi tão pródiga com o setor bancário. Afinal, dizem por aí que o mesmo está interessado em financiar a campanha de Aécio Never. Se é verdade, não sei, mas o Santander andou tomando uma atitude estapafúrdia, que ganhou as redes sociais: enviar a seus clientes uma suposta análise de mercado, relacionando o eventual crescimento da presidente nas intenções de voto à desaceleração da economia nacional.


Examinando melhor o caso, tomei conhecimento de que não se trata de uma publicidade enviada aos clientes de modo geral, e sim de uma espécie de orientação econômica prestada tão somente aos correntistas Select, ou seja, aqueles com renda mensal superior a 10 mil reais. O texto foi enviado nos extratos do mês de julho.

Divulgado o caso, o banco se apressou em se desculpar pelo que considera um mal entendido. Alegadamente, sua atitude não teve qualquer viés político-partidário, sendo apenas a expressão de analistas financeiros, que realmente pensam dessa forma. Publicar esse tipo de análise seria uma cortesia do banco aos seus clientes de nível acima da superfície. Um desmentido foi parar no site da empresa.

Não me darei ao desfrute de transformar isso numa luta do bem contra o mal. Para isso, já existe gente mais do que suficiente. Quando soube do caso, minha cabeça penalista logo se perguntou: isso pode ser considerado crime? Então fui ao Código Eleitoral (Lei n. 4.737, de 1965) fazer uma busca e o máximo que encontrei foi isto:

Art. 323. Divulgar, na propaganda, fatos que sabe inverídicos, em relação a partidos ou candidatos e capazes de exercerem influência perante o eleitorado:
Pena - detenção de dois meses a um ano, ou pagamento de 120 a 150 dias-multa.
Parágrafo único. A pena é agravada se o crime é cometido pela imprensa, rádio ou televisão.

O tipo penal acima não se aplica ao caso, pela razão singela de que a conduta não foi praticada na propaganda eleitoral, uma atividade pública disciplinada em lei. Tratou-se de uma ação privada, de uma empresa em relação a um segmento restrito de seus clientes. Como argumentos de defesa, ainda se poderia alegar (a) que não se sabe se os fatos em apreço são inverídicos; (b) que a especulação é plausível, de acordo com as lições de especialistas; (c) que não houve dolo de influenciar no processo eleitoral e, em se tratando de crime exclusivamente doloso, a ausência de elemento subjetivo afasta qualquer possibilidade de incriminação.

A Lei n. 9.504, de 1997, apesar de disciplinar a propaganda eleitoral à exaustão, nada prevê que possa ser relacionado. Por conseguinte, os bancos podem continuar "instruindo" seus correntistas como queiram, inclusive com certa dose de terrorismo, prática por sinal nada inédita. E por incrível que pareça, há algo de benéfico nisso. A ausência de leis tolhendo esse tipo de manifestação é o que permite a nós, cidadãos comuns que escrevem na internet, produzir as nossas críticas contundentes, se quisermos, respondendo naturalmente por eventuais excessos.

Suspeito que esse episódio terminará por aqui mesmo. Uns tantos esbravejarão contra o Santander e, por extensão, contra o sistema bancário, ideologizando a questão e sugerindo conspirações. A turma anti-PT, que está para a política mais ou menos como os argentinos estão para o futebol, tentarão tirar a sua casquinha, também. Mas suspeito que ambos os lados farão papel de bobos.

A minha questão era de natureza penal e ela não leva a lugar nenhum. Então, para mim, fim de papo.

Fonte: http://blogs.estadao.com.br/radar-politico/2014/07/25/santander-avisa-a-clientes-que-economia-pode-piorar-se-dilma-subir-nas-pesquisas/

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Contrabando e descaminho

Sem tempo para dedicar ao blog, deixei passar a Lei n. 13.008, de 26 de junho último, que promoveu uma alteração no Código Penal (em vigor desde o dia 27, data de sua publicação).

Por meio dela, tenta-se resolver uma confusão: todo mundo já ouviu falar de contrabando, mas o leigo entende incorretamente de que se trata. O que o povo chama de contrabando, na verdade é descaminho, um delito de natureza tributária, consistente em um conjunto de condutas que se destinam a inviabilizar a cobrança de imposto devido sobre circulação de mercadoria. O contrabando, por sua vez, é a entrada ou saída, do território nacional, de mercadoria proibida.

Ambos os ilícitos eram previstos no mesmo art. 334 do Código Penal. A nova lei promoveu um desmembramento, deixando o descaminho onde estava e criando o art. 334-A para tratar exclusivamente do contrabando. Não há inovações relevantes quanto ao conteúdo, senão o desmembramento das condutas típicas e ajustes na redação do dispositivo inserido.

Mas o legislador não perderia a chance de dar uma incrementadazinha no espírito punitivista. Assim, a pena do descaminho permaneceu inalterada (1 a 4 anos de reclusão), mas a do contrabando aumentou para 2 a 5 anos de reclusão. Só para não perder a viagem, claro.

Um míssil no ar

Esqueça as condições meteorológicas, falha humana ou defeito na aeronave. Ao que tudo indica, agora se corre o risco de uma viagem aérea ser abreviada por um míssil. Mais uma vez, a realidade extrapola a ficção e cria um cenário verdadeiramente aterrorizante para nós, meros mortais.

Não posso deixar de pensar que, hoje, quando vamos fazer uma viagem, somos submetidos a verdadeiros constrangimentos, justificados pelas tais normas internacionais de segurança (sempre o valor segurança, acima de tudo), que atacam a nossa boa fé e, às vezes, até o nosso corpo. Então é o caso de perguntar, notadamente aos países responsáveis pela disseminação desses procedimentos: e qual é o mecanismo de segurança contra mísseis? Como podemos nos defender das guerras que vocês não se cansam de inventar?

Isto desvela a falácia da tal segurança, porque ela é unilateral. Eles querem se proteger de nós, mas nós não podemos nos proteger deles.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

A sexta primavera

Hoje nossa meninazinha completa 6 anos. Estava numa polvorosa em relação ao aniversário, mas infelizmente adoeceu no domingo. Está enfrentando episódios de febre, que ainda não passaram, e algum mal-estar. Em suma, não vai aproveitar o dia como poderia.

Mas ultrapassando essa dificuldade, estamos gratos a Deus por sua vida, por sua companhia, que é a melhor coisa que já nos aconteceu, e pela oportunidade de reunir a família ao seu redor.

Feliz aniversário, Júlia. Te amamos.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Críticas e reações

Se eu fosse dono de restaurante e alguém escrevesse uma crítica contra o meu estabelecimento, sobretudo se contundente, a minha atitude seria usar a página do próprio restaurante para prestar os esclarecimentos devidos à comunidade e principalmente aos clientes. Além disso, exerceria meu direito de resposta, perante o veículo que tivesse publicado a crítica. E naquilo em que a critica fosse pertinente, eu teria a hombridade de me desculpar e anunciar as medidas para melhorar o serviço.

Penso que esse tipo de atitude é mais eficiente, em termos de reputação, do que deixar que as coisas corram de modo a ensejar boatos. Não foi, contudo, o que fez o dono de um restaurante da cidade francesa de Cap-Ferret, que recorreu ao judiciário contra a postagem de uma blogueira. Em consequência, o juiz determinou que Caroline Doudet mudasse o título de sua postagem e, ainda por cima, pagasse o equivalente a 4,5 mil reais de indenização.

O motivo da decisão é que a blogueira tem quase 3 mil seguidores e, quando se digitava o nome do restaurante, a postagem crítica era o quarto resultado que retornava. Assim, o restaurateur(*) se considerou prejudicado em seus negócios e exigiu providências. E conseguiu.

O caso é curioso tanto pelo ineditismo (e, convenhamos, havia justa razão para o proprietário se sentir prejudicado) quanto pelas consequências. Embora exagerando pelo uso da palavra "crime", a blogueira está certa ao dizer que foi punida não pelo texto escrito, mas por ter grande visibilidade em buscadores. No mínimo questionável. Afinal, o que deveria ser questionado é se o texto, em si, é ou não prejudicial. Porque se a manifestação é legítima, parece-me abusivo impor consequências punitivas por causa da repercussão.

No mais, até comemoro o fato de este ser um blog tão pouco lido, pois também já critiquei um restaurante aqui de Belém. Com justo motivo. E sou do tipo que defende a ideia de que mau atendimento deve ser denunciado. O objetivo não é falir estabelecimentos, mas levá-los a melhorar, se tiverem a humildade de rever seus atos. E respeitar o cliente, que é gente, e somente por isso já merece ter resguardada a sua dignidade.

(*) Breve digressão linguística: na gramática francesa, a palavra correta é restaurateur, como coloquei no texto, mas se disseminou pelo mundo a versão que inclui um "n", restauranteur, que é como provavelmente você conhece. Cf. http://grammarist.com/spelling/restaurateur/

Fonte: http://tecnologia.terra.com.br/juiz-condena-blogueira-que-aparecia-demais-no-google,5845038291447410VgnVCM3000009af154d0RCRD.html

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Cachorrada

A insanidade não termina nunca. Como a Alemanha venceu a copa, jornalista desocupado se dá ao trabalho de fazer matéria sobre raças de cães originárias daquele país! Veja: http://mulher.terra.com.br/comportamento/conheca-as-racas-de-caes-originarias-da-alemanha,548984acbf437410VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html

Taqueopariu. Está faltando serviço nas redações por aí, como sempre. Pelo menos é bonitinho.


Pirarucu

Isto sim é uma ótima notícia: projeto de criação de pirarucus em cativeiro, apoiado pelo SEBRAE, deve disponibilizar uma superssafra brevemente. Com isso, um dos mais saborosos peixes amazônicas deve chegar à mesa do paraense com mais facilidade.

Semana passada estive no Ver-o-Peso e comprei uma boa peça do bicho. Já comemos um pedaço. Só de pensar, a boca enche de água.

Maravilhoso que o nosso Estado possua uma imensa bacia hidrográfica, o que nos permite ter uma grande variedade de peixes maravilhosos. O lado ruim da coisa é que, mesmo assim, o peixe chega cada vez mais caro à mesa do consumidor. Absurdo.

domingo, 13 de julho de 2014

Só para informar

Sou plenamente adepto do aforismo tudo que é demais enjoa. Esta é uma das principais razões de minha aversão ao futebol, já que ele é uma obsessão totalizante neste país (e em outros). Se tem uma coisa que não compreendo e que me irrita sobremaneira é que, mal termina o jogo, começam a passar os "melhores momentos". E quando isso termina, começa o programa no qual o jogo será objeto de debates (juro, tem gente que debate profissionalmente jogos de futebol)! No dia seguinte, os programas esportivos e os jornais impressos continuarão tratando do mesmo tema.

É muita prorrogação para um jogo só. Sacal.

Em se tratando de copa do mundo, nada mais previsível que o assunto renda. Por isso, gostaria de informar que a competição terminou no começa da noite de hoje. Já terminou, ok? Por sinal, a seleção vencedora foi aquela para que eu torceria, se gastasse minhas energias com isso. Mas o importante é que terminou. Acho que mais uma semana de debates sobre todas as coisas óbvias que estão sendo ditas está bom, não? Uma semana?

Depois, tocamos a vida adiante, tratando de coisa que pr...

Oh, não! A partir de agora a internet vai se encher de comentários inteligentes sobre as eleições! Vai ganhar força total o PT isso, PSDB aquilo!

Meu Deus do céu, alguém tem o telefone daquele tal de Joseph Blatter? Preciso desesperadamente descolar uma outra copa, o quanto antes!!!

sábado, 12 de julho de 2014

Além do imaginável

Huck no momento em que tentava causar impacto.
Eu pensava que ninguém fosse mais ridículo e ensandecido ao falar sobre futebol do que Galvão Bueno, mas está aí Luciano Huck para ultrapassar a barreira do absurdo. Em seu programa dos sábados, o sujeito teve a coragem de comparar a derrota da seleção brasileira para a Alemanha, por 7 x 1, ao ataque terrorista de 11 de setembro, um dos mais surpreendentes acontecimentos da história recente, que custou quase 3 mil vidas.

O detalhe histriônico é que a monstruosidade foi bostejada durante conversa com o dito Galvão Bueno, que pelo menos lembrou que o 11 de setembro foi um problema mais grave, de proporções completamente diferentes. Uma pessoa normal se teria indignado e falado de modo mais incisivo, mas existem as questões internas da empresa. De todo modo, ser desmentido por Galvão Bueno, ainda que de leve, é para quebrar as pernas de qualquer um.

Luciano Huck é uma celebridade controversa. A despeito do esforço atroz que realiza para ser reconhecido como bom moço, e mais do que isso, como um verdadeiro benemérito, um protetor dos fracos e oprimidos, além de se pretender o paradigma de marido em uma família perfeita, pesam contra ele inúmeras críticas severas: explorar a necessidade alheia para se autopromover e ganhar dinheiro (refiro-me aos quadros nos quais melhora a vida de gente pobre, em seu programa); perseguir a condição de cicerone de celebridades internacionais, funcionando como um deslumbrado papagaio de pirata; construir mansão em área de proteção ambiental. Este caso, por sinal, teve desdobramentos: o Município de Angra dos Reis embargou a obra e aforou ação civil pública contra Huck, além da revelação de relações espúrias entre ele e o então governador Sérgio Cabral Filho.

Cabral teria editado um decreto alterando a legislação ambiental fluminense, justamente com vistas a permitir que Huck construísse sua mansão. O decreto foi alvo de ação direta de inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal, movida pela Procuradoria-Geral da República. Para defendê-lo, o apresentador contratou um escritório de advocacia que tem entre os sócios a mulher de Cabral. Uma teia de coincidências.

Foram muitas as críticas e memes na internet.
Dois episódios recentes e amplamente divulgados pela mídia enodoam o rapaz. Em abril deste ano, pegou carona em um constrangedor episódio de racismo no futebol e começou a vender camisetas de sua grife. Houve intensa reação pública e as vendas foram interrompidas. Mas em apenas três dias ele faturou 20 mil reais com o produto. A 69 reais a unidade, dá para perceber a capacidade de mobilização de inocentes úteis que esse rapaz possui.

Na segunda metade de junho, com a copa já em andamento, Huck quis tirar proveito novamente com um quadro em seu programa. O objetivo seria arranjar namorados estrangeiros para as brasileiras, o que foi interpretado como estímulo à exploração sexual. Nova enxurrada de protestos e, desta vez, formalização de requerimento ao Ministério Público Federal, com vistas a investigar a Rede Globo por incitar a exploração sexual.

Naturalmente, tudo foi rapidamente negado, explicado, ressignificado. Mas são muitas estórias mal contadas em pouco tempo, ainda mais considerando o histórico do apresentador, que em 2011 teria estimulado doações aos desabrigados pelas chuvas no Estado do Rio de Janeiro. Muito altruísta, não fosse pelo fato de que a iniciativa esconderia a intenção de turbinar um dos negócios de que é sócio (leia aqui).

Assim fica difícil. Mas, pelo menos, e felizmente, não são apenas a concorrência ou jornalistas contrários ao establishment que denunciam os pecados de Luciano Huck. A mesma internet que ele utiliza para agir lhe dá o troco, por meio de pessoas comuns, gente de bem que consegue identificar a malícia e não perdoa. Acuado, ele se vê obrigado a voltar atrás, ao menos até a investida seguinte.

Ser esperto não é mais como antes.

Fontes: 

  • http://televisao.uol.com.br/noticias/redacao/2014/07/12/huck-compara-derrota-do-brasil-ao-11-de-setembro-e-e-criticado-na-web.htm
  • http://www.estadao.com.br/noticias/geral,decreto-de-cabral-favoreceu-cliente-de-sua-mulher-em-angra,502671
  • http://www.purepeople.com.br/noticia/camisetas-somos-todos-macacos-lancadas-por-luciano-huck-rendem-r-20-mil_a20071/1
  • http://www.ocafezinho.com/2014/06/27/globo-e-denunciada-no-ministerio-publico-por-crime-de-exploracao-sexual/

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Dia do aniversário

Completando 39 anos hoje, quieto em casa, recebi as pessoas de minha família originária para um almoço que me ofereceram. Recebi ligações, mensagens via WhatsApp e li mais de uma centena de depoimentos no Facebook. São amigos antigos, amigos recentes, alunos, ex-alunos, colegas de profissão, gente que conheci no meio virtual (inclusive algumas que nunca conheci pessoalmente).

Sem dúvida, hoje me senti amado. Graças a Deus por isso. Assim vale a pena.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Simples assim

O locutor-e-comentarista-de-todo-e-qualquer-esporte Galvão Bueno é uma das pessoas mais irritantes desse meio. Menos por se comportar como um torcedor alucinado quando, supostamente, pede-se um pouco de compostura para exercer o trabalho e mais porque fala excessivamente, especula, mete-se a filosofar e fala asneiras. Um chato de galocha, para resumir. Quem gosta de programas esportivos normalmente aponta outros nomes como bons profissionais; Bueno é apenas o mala sem alça.

Galvão Bueno foi plenamente Galvão Bueno após o acidente/agressão/tanto faz com Neymar, assumindo um tom funéreo quase como se estivesse fazendo a cobertura do holocausto nazista. E repetiu a dose no inesperado jogo que custou a eliminação da seleção brasileira. Um detalhe curioso: em casa, a TV estava sintonizada na Bandeirantes, em volume moderado e perfeitamente audível. Minha esposa quis sintonizar na Globo, justamente para ver o discurso do cara, e mesmo aumentando o volume, mal dava para escutar o zumbido monocórdico do apresentador enlutado.

Uma das bazófias bostejadas por Galvão Bueno foi um questionamento, claro, pra lá de dramático. Mostrando imagens das crianças que choravam no estádio, quis saber o que seria delas e disse que levariam anos para superar aquele momento.

Obviamente, essa é uma falsa questão, simplesmente porque inexistente. Crianças são mais fortes do que parecem, como aprendi sendo voluntário, durante quatro anos, em uma ala hospitalar que tratava pacientes de câncer. Elas aprendem a conviver com a doença, com o risco de morte, com a perda e com outras mazelas. Claro que doi e pode trazer consequências definitivas, mas a vida nos impõe uma sucessão de pesares e somos forçados a lidar com isso. É uma questão de atitude, o que faz toda a diferença.

A despeito da imensa tolice de Galvão Bueno, que parece ávido por induzir um sentimento de luto nacional ― seja para comungarmos todos de sua angústia pessoal, seja porque tenha interesses econômicos em fomentar essa linha de ação midiática ―, admitamos por um momento, somente para fins de argumentação, que o resultado do jogo de ontem seja mesmo um evento tão grave assim para as crianças brasileiras. Uma situação traumatizante, para recorrer ao modismo argumentativo da atual sociedade dependente de remédios para tudo.

Recorro a um exemplo doméstico. Minha filha adoeceu umas tantas vezes em seus dois primeiros anos de vida. Tivemos que levá-la ao médico diversas vezes, inclusive em serviços de emergência, onde era atendida por quem estivesse de plantão e não por alguém que já conhecesse e em quem confiasse. Nessas ocasiões, exames de sangue, soros e outros medicamentos injetáveis eram rotina. Ela então perguntava se ia doer. Nossa resposta sempre era: Sim, vai doer. Mas precisamos fazer isso para que você fique boa. Você pode chorar, mas não pode puxar o braço, porque isso lhe machucaria mais. Estamos aqui e ficaremos ao seu lado o tempo inteiro.

Recordo que me partia o coração ver aquela menina tão pequena, magrinha, olhando-nos perplexa enquanto uma agulha entrava em sua veia, mas ela mantinha o braço parado e deixava o procedimento ser feito. Um de nós segurava sua mão, o outro lhe fazia um carinho e lhe dizíamos coisas para que tentasse se acalmar. Júlia nunca tentou impedir um procedimento médico. Chorando, sofrendo, ela confiava em nós e isso não tem preço. Se tivéssemos ido pela via do "não vai doer", isto é, a via da mentira, o que ela teria entendido sobre nosso comportamento?

Em todas as copas, o povo brasileiro entra em surto e se permite o clima de já ganhou. Age como se a vitória brasileira fosse direito líquido e certo, um fenômeno natural e inquestionável. Faz isso até quando a seleção está meio desacreditada. Que dirá desta vez, com o campeonato ocorrendo em solo nacional e a seleção em boa fase? E em grande medida esse clima irreal é fomentado por gente como Galvão Bueno. Deveria esse senhor, portanto, em vez de alimentar demônios imaginários, assumir a sua parcela de responsabilidade pelo choro das crianças.

Pais e imprensa, já que se importam tanto com os pequenos, não deveriam ter inculcado em suas mentes a certeza insana de um hexacampeonato, que era apenas uma possibilidade ou até uma probabilidade, se quiserem. Mas não um fato, muito menos um compromisso de Deus com a humanidade. Deveriam ter dito: Vamos torcer para a nossa seleção vencer, mas todas as seleções estão aqui para vencer e só pode haver um campeão. Pode ser o Brasil, mas pode ser outro país. Se os nossos perderem, você pode ficar triste, claro. Mas entenda que é só um jogo. Tudo vai continuar como sempre foi e poderemos torcer de novo na próxima.

Com esse tipo de atitude, poderíamos construir torcedores mais conscientes, emocionalmente equilibrados, do tipo que não queima a bandeira nacional, não promove confusão na rua nem bate em torcedor alemão que comemora gol de sua seleção, ainda dentro do estádio. Cidadãos educados, capazes de compreender que o melhor do esporte, de todo e qualquer esporte, é ensinar a ganhar e a perder, a ter disciplina, a defender uma bandeira e, sobretudo, a se confraternizar com todos, que são nossos iguais.

Onde estarão amanhã as crianças que choraram pelo resultado de Alemanha 7 x 1 Brasil? Segundo Galvão Bueno, em consultórios psiquiátricos, renovando receitas de ansiolíticos, vagando sem rumo pelas ruas ou tornado-se psicopatas. De acordo com a minha proposta, elas estariam um pouco mais velhas, um pouco mais maduras e um pouco mais prontas e construir um país que dê alegrias aos seus filhos. De preferência, em todas as áreas.

Macho

Se há uma unanimidade no Estado do Pará, ela se chama DETRAN.

Responsável por um serviço de que, no final das contas, depende todo o resto (sem regularização, não circularia nenhum veículo automotor), temos necessidade absoluta desse órgão que é uma fábrica de dinheiro, uma torneira sempre aberta. Mas a unanimidade está na indecência dos serviços prestados: o DETRAN é fisicamente inadequado e desconfortável; seus servidores (falo genericamente, tá, nervosinhos?) estão no ápice da escala de inoperância e menosprezo ao cidadão; cobra caro por todo e qualquer serviço; cria propositalmente dificuldades absurdas para procedimentos simples (porque é criando dificuldades que se vendem as facilidades) e também aparece no topo da lista de nomes lembrados quando se pensa em corrupção.

Eu aprenderia a ter enorme respeito por um governador que entrasse com os dois pés no DETRAN. Chegasse lá e revolucionasse, acabando com todos os esquemas hoje existentes e estabelecendo metas rigorosas de profissionalização, recorrendo à tecnologia e à publicidade para desmontar as chicanas que grassam por lá.

Infelizmente, é difícil até acreditar que seja possível acabar com a bandalheira no DETRAN. Se possível for, inexistente é o político que tenha interesse em anular um esquema tão lucrativo, em vez de aderir. Se houver tal pessoa, ela enfrentaria dificuldades que me fariam temer por sua vida. O que me leva à conclusão, nada original, mas importante talvez exatamente por sua obviedade: aquele órgão só vai começar a mudar quando nós, cidadãos, começarmos a fazer questão absoluta disso. E é aí que a porca torce o rabo. Afinal, dar a propina é sempre mais fácil, não?

Bom, fica a dica para os candidatos.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Pequeno questionamento

Uma pessoa que comemora a derrota de Dilma Rousseff, no pleito de outubro vindouro, como consequência da eliminação da seleção brasileira da copa, tem alguma consciência do tamanho da burrice que está dizendo?

Dilma é candidata e, como tal, pode perder a eleição, claro. Assim como qualquer seleção poderia ser derrotada. Qualquer uma. Mas se ela perder, com certeza absoluta será por uma gama de fatores que passam muito ao largo da copa do mundo. Terá a ver com política econômica, níveis de desenvolvimento, modelo de gestão, inexistência de políticas agrícola e ambiental, quadrilhagem superlativa da classe política, escândalos de corrupção, manipulação midiática, etc. Será por muita coisa, mas não por causa da copa.

Olhe para trás: nunca se disse que o resultado da copa tenha influenciado de modo perceptível qualquer eleição. Esta seria diferente, só porque o campeonato está sendo realizado aqui? Será mesmo?

Quanta tolice. E o pior é que tem gente comemorando desde já...

Receita para o Brasil se tornar um país imbatível

Fazer os brasileiros defenderem, nos 365 dias do ano, as mesmas ideias que defendem nas horas seguintes à eliminação da seleção brasileira da copa.

Forçados a aderir à realidade, sob o impacto da eliminação, é um show de bom senso e autocrítica. Todo mundo falando em humildade, na importância de valorizar o trabalho e o espírito de grupo. Um monte de gente dizendo que precisamos nos ocupar de outras coisas além do esporte (sim, nessas horas eles se lembram até da educação!). Aí se lembram de criticar a FIFA, que só quer dinheiro, e se lembram que o Brasil precisa que aprendamos a votar.

É um desbunde! Infelizmente, daqui a pouco todo mundo esquece isso e volta ao jeitinho brasileiro habitual. E, se por qualquer razão, fosse possível a "seleção canarinho" voltar à competição, seríamos novamente tomados pelo clima de salto alto.

É nóis. Chupa, mundo!

Mais do mesmo futebolístico

À exceção, obviamente, de quando a seleção vence, toda copa é a mesma coisa: enquanto os brasileiros vencem, é aquele ufanismo desbragado, irracional, alucinado. Quando começam a perder, subitamente começam a falar em humildade, em tirar o salto, a elogiar as seleções que se ocuparam mais de preparação do que de badalação, a criticar a imprensa que age à margem dos fatos e, por fim, começam os discursos de ódio.

Sempre assim.

Agrada-me pensar que me mantenho coerente. Amo tanto este país que só não torço por ele nas copas. Não compro esses discursos lunáticos de que vencer a copa da FIFA serve de alento para os nossos problemas, que são muitos. Temos necessidades muito maiores e prementes. E sei reconhecer o pão e circo.

No mais, se eu tivesse que torcer por alguém, seria pela Alemanha, país que me inspira profunda simpatia, por seu elevado senso de civilidade, respeito ao meio ambiente, à ciência e à cultura. Então não mudei de lado em momento algum.

Claro que, aos olhos de todos, o errado sou eu. Mas só eu permaneço onde sempre estive (além de uns poucos outros brasileiros). E mais não preciso dizer. Porque quem está satisfeito não precisa falar, muito menos esbravejar. Só viver o momento.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Para o consumidor brasileiro

Está no ar a versão beta do novo serviço de proteção ao consumidor. Segundo o site oficial:

O Consumidor.gov.br é um novo serviço público para solução alternativa de conflitos de consumo por meio da internet. O serviço já pode ser usado pelos consumidores dos seguintes estados: Acre, Amazonas, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Até 1º de setembro de 2014 estará disponível em todo o país.

Você pode reclamar e a empresa tem 10 dias para apresentar sua resposta. Estão faltando maiores informações sobre a atuação do poder público nesse serviço. Mas vamos torcer para que funcione e as coisas melhores para o nosso lado.

Eleições 2014: candidatos às majoritárias

Em arte publicada no Portal do Diário do Pará, eis a relação dos indivíduos que concorrerão às eleições majoritárias em nosso Estado, no próximo mês de outubro:


A lista contém nomes que podem ser divididos basicamente em dois grupos: o dos pequenos candidatos, que se apresentam como alternativas aos partidões e à máquina administrativa, mas que na verdade não têm nenhuma chance de vitória, lamentavelmente; e os representantes dos partidões, que a despeito de um sem número de motivos para serem deportados do planeta, serão justamente os que chegarão à frente.

Alguns desses nomes me fazem tremer de indignação e vergonha. É por isso que, este ano, votarei nas alternativas nanicas sem chance de vitória. E no segundo turno, votarei nulo, com a consciência limpa e a certeza de que não será desta vez que teremos alguma chance de começar a viver com dignidade. Sequer estamos no rumo para que isso comece a acontecer.

Escavações no Murutucu

Em 2009, eu bem que tentei, mas não consegui acesso às ruínas do Murutucu. Como destaquei nesta postagem, conseguir informações já é difícil. O caso destaca a incompetência de nosso poder público para preservar não apenas espaços físicos, mas a própria memória de nosso povo.

Agora, tomo conhecimento do Projeto Sítio-Escola Engenho do Murutucu: uma Arqueologia dos Subalternos, vinculado à área de Arqueologia da Universidade Federal do Pará. O objetivo é encontrar materiais utilizados na época em que o engenho funcionava, por meios dos quais se pretende descobrir as condições de vida e de trabalho no mesmo. Para mim, uma tarefa instigante, já que adoro História e tenho todo o interesse na nossa própria.

Espero que o trabalho seja realizado e que, por meio dele, possamos  conhecer mais do nosso passado. Espero que muitos itens sejam encontrados e que eles fiquem disponíveis ao público. E espero, sobretudo, que isso crie as condições necessárias para que as ruínas do Murutucu se tornem uma realidade em nossas vidas.

sábado, 5 de julho de 2014

Violência desportiva

Claro que hoje o país (o país que a mídia insiste em vender como o único e verdadeiro) está de luto e só fala do caso Neymar, que no jogo de ontem sofreu dura entrada de um jogador colombiano (Zuñiga, acho que é o nome) e fraturou uma vértebra, um dano felizmente recuperável, inclusive para que o rapaz volte a suas atividades esportivas.

Na imprensa e sobretudo nas redes sociais, as opiniões se dividem. Uma minoria acredita que o lance foi normal de jogo, como o inimigo público n. 1 do Brasil asseverou, em nota oficial. A maioria, entretanto, fala em ataque intencional, em falta criminosa. Há quem recorra a argumentos técnicos para justificar este ponto de vista.

Não me darei ao trabalho de discutir este ponto, até porque tenho certeza de que a maioria dessas manifestações concluindo por dolo estão permeadas de rancor e incapacidade de raciocínio. Se bem que, considerando que a seleção brasileira é basicamente Neymar e mais uns, nada mais previsível que os adversários tentassem colocar o cara fora de jogo, então admito que a tese de dolo tem, de saída, boa dose de plausibilidade.

O que me traz a esta questão que, em verdade, não me interessa particularmente é a sua abordagem criminal. Afinal, muitos estão pedindo que o jogador colombiano seja preso, além das ameaças de morte que lhe foram assacadas. Como me perguntaram aqui em casa, resolvi escrever.

Por óbvio, dizer se o caso configura crime mesmo exige uma resposta que não tenho e que acabei de assumir não ser de meu interesse procurar: o choque entre os dois atletas foi um acidente próprio de esportes de contato ou houve algum tipo de conduta irregular por parte de Zuñiga?

Respondo, então, por hipótese.

Se a premissa for de que, a despeito da violência, a colisão não denota comportamento antiesportivo de Zuñiga, isto é, foi um lamentável acidente, desses que podem ocorrer mesmo tendo sido respeitadas as regras do futebol, então o caso será de exercício regular de direito e, nessa condição, não existe crime.

De acordo com doutrina antiga e com o Código Penal vigente, a chamada violência desportiva é um dos exemplos clássicos de exercício regular de direito, que exclui a ilicitude da conduta e, por isso, exclui o crime. De acordo com doutrina mais recente e bem elaborada, a violência desportiva exclui a própria tipicidade da conduta (o que chamamos de tipicidade conglobante, porque a prática esportiva é fomentada no interesse da própria sociedade, de modo que somos forçados a tolerar alguns danos). De todo modo, fica excluído o crime.

Em qualquer uma dessas interpretações, contudo, há uma exigência: a de que o comportamento do jogador possa ser considerado como compatível com as regras e as características do esporte no qual foi produzido o dano.

Adotando a premissa contrária, a de que Zuñiga violou as regras do futebol, haveria crime e, obviamente, ele poderia ser processado pela justiça comum brasileira, sem embargo das consequências próprias da tal Justiça Desportiva e dos regulamentos da copa do mundo e da megaultraüberorganizaçãoacimadobemedomal, a FIFA. É mais ou menos como Mike Tyson arrancando um pedaço da orelha do adversário. Se não é boxe, então é crime e dá cadeia, em tese.

Neste caso, teríamos que saber se Zuñiga agiu com dolo (se teve a intenção de ferir o adversário) ou com culpa (se teve a intenção de praticar uma conduta perigosa, ou seja, imprudente, mesmo sem o propósito de ferir o adversário). Só este aspecto pode render debates intermináveis.

Caso se acredite que houve culpa, então teríamos lesão corporal culposa, delito de menor potencial ofensivo e que, portanto, deve ser apenado com medidas que não envolvam prisão, ainda mais em se tratando de réu primário. Só para informar, a pena cominada é de 2 meses a 1 ano de detenção, mas seria necessário substituí-la por alguma restritiva de direitos. Em se tratando de culpa, a gravidade da lesão é considerada apenas para fins de dosagem da pena.

Caso se aposte em dolo, a situação se complica. Afinal, não adiantaria alegar que não houve a intenção de incapacitar a vítima, apenas a de provocar uma lesão leve. O dolo abrange os fins visados pelo agente, os meios e os resultados previstos como prováveis. Havendo dolo de lesionar, portanto, um resultado mais grave do que o esperado estaria, em tese, coberto pela figura do dolo eventual e conduziria às mesmas consequências.

Por conseguinte, Zuñiga seria acusado de lesão corporal grave, caracterizada pela incapacidade para os ocupações habituais por mais de 30 dias, se Neymar realmente ficar mais do que 30 dias no estaleiro. A previsão dos comentaristas esportivos é de 4 semanas, mas vi que os médicos estão falando em 6 a 8 semanas, a depender das respostas físicas do paciente. Então, nesse cenário, essa seria a acusação. A pena seria de 1 a 5 anos e, por se tratar de crime cometido com violência contra pessoa, não caberia a substituição da pena prisional por restritivas de direitos. Supostamente, o agressor poderia conhecer o sistema carcerário brasileiro.

No mais, vale lembrar que, mesmo sendo estrangeiro o acusado, em vista de o fato ter sido praticado em território brasileiro, aplicam-se as leis brasileiras. Assim, é conveniente a Zuñiga que ele vá logo reencontrar a família. Até porque o sistema legal brasileiro é a menor de suas preocupações.

Imagino como será a minha próxima aula de exercício regular de direito, no futuro.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Artur

Corria o ano de 1991 quando conheci aquele rapaz, por nome Artur, que vivia às voltas com duas colegas mais próximas a mim. Nós nos reunimos algumas vezes para estudar, mas acabamos nos distanciando. O tempo passou e, de todo o grupo que pretendia cursar Direito na UFPA, somente eu e ele fomos aprovados.

Tornamo-nos, assim, colegas de faculdade, porém eu em uma turma, ele em outra. Desse modo, passaram-se os 5 anos de curso, sem que nos tornássemos amigos. Um dia, quando já estávamos formados, minha mãe recebeu um primo que reencontrara não sei como. Ele foi almoçar em nossa casa. Levou esposa e um filho, justamente aquele mesmo Artur, que de conhecido distante virou aparentado.

Apesar da mudança de condição, nem assim nos aproximamos. Ficamos naquela cortesia de bons amigos quando se encontram, caso se encontrem. Infelizmente, tenho que admitir que já fui mais cuidadoso com os amigos. Eu realmente me esqueço de cuidar melhor de quem não está em meu entorno imediato e já tive muitas razões para me recriminar por isso.

O fato é que não terei outra oportunidade para prosear com Artur Andrade. Ontem, bem no dia em que completava 43 anos de idade, ele sofreu um infarto quando saía do fórum de Santa Maria do Pará, cidade onde mantinha um escritório de advocacia. E assim terminou a sua trajetória, deixando uma família saudosa e um filhinho de 3 anos, apenas.

Há pouco mais de uma hora, eu e minha mãe fomos até a capela onde estava prestes a ser iniciado o velório. Falamos com os pais de Artur. A mãe disse que não tinha como não chorar. O pai parecia mais calmo e me deu as informações sobre o ocorrido. Mas aí deixou a emoção aflorar ao dizer que não sabia se teria coragem de ver seu filho morto, pois queria reter a imagem dele vivo. Citou Cecília Meirelles: algo sobre experimentar uma dor mais forte quando ela nos chega através da carne dos filhos. Disse preferir que ele mesmo tivesse ido, pois já tem quase 70 anos, e não Artur, que não pode criar o próprio filho. Abracei-o e desejei que tivesse força para enfrentar o momento. É o que nos resta.

Amanhã será um dia de despedida. Vai com Deus, Artur.