segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Se eu fosse indicar um ministro para o STF

Tenho um jogo que pratico comigo mesmo: especular. Imagino coisas, às vezes absurdas, e me ponho a elucubrar sobre seus desdobramentos. Dia desses, pus-me a matutar sobre a seguinte questão: se eu fosse presidente da República (eleito, tá? legítimo!), e precisasse indicar alguém para uma vaga no Supremo Tribunal Federal, quem seria essa pessoa?

Como se pode ver nos arquivos aqui do blog, e também como afirmei em inúmeras ocasiões, em aulas e palestras, pagamos um preço elevado pela inexistência de um penalista na Suprema Corte. Não se trata de bairrismo, e sim de identificar as cada vez mais frequentes e despudoradas agressões contra a Constituição de 1988, perpetradas por quem deveria defendê-la. Não é apenas uma questão de conhecimento, mas de experiência no campo e de sensibilidade. Até de humanidade. Basta ver que uma mente processualista civil (Teori Zavascki) comandou uma das mais obscenas inconstitucionalidades de que temos notícia: a execução da pena antes do trânsito em julgado da condenação. Aos que quiserem dizer que a mentalidade processualista civil não tem nada a ver, recomendo que leiam o acórdão e vejam quais foram os argumentos do relator. Formalidades, eficientismo, estatísticas: tudo, menos principiologia penal.

Pensando em um nome para o STF, o primeiro que me vem à mente é o do advogado paranaense Juarez Cirino dos Santos. Maior criminólogo brasileiro, esquerdista convicto, dono de um belíssimo currículo e de uma reputação verdadeiramente ilibada (no sentido lato da palavra e não como aplicada para preenchimento de certos cargos), sua presença na Suprema Corte certamente tiraria todos da zona de conforto. De quebra, o mestre Juarez é de uma simplicidade marcante. Em evento ocorrido aqui em Belém, não faz muito tempo, no qual ele era homenageado, o professor chegou sozinho e, ao encontrar um grupo de pessoas à porta do auditório (era onde eu estava), abriu um largo sorriso e disse: "Boa noite. Eu sou o Juarez". Fosse uns e outros por aí, que não têm um décimo de seu conhecimento e muito menos do seu caráter, teria chegado com um séquito de puxa-sacos.

Ocorre que Juarez já tem 75 anos, o que inviabiliza legalmente a sua indicação ao cargo. Só legalmente, porque ele tem toda a energia necessária para revolucionar aquela corte. Diante disso, acredite, eu me permiti uma longa reflexão sobre o tema, como se realmente precisasse indicar alguém. Gastei um tempo na internet, lendo informações sobre meus possíveis ungidos. E, ao final desse exercício, cheguei a uma conclusão. Eu indicaria:

Vera Regina Pereira de Andrade. Com pós-doutorado em Criminologia e Direito Penal, tem vasta experiência acadêmica nos três eixos da educação superior: ensino, pesquisa e extensão, sendo professora titular da Universidade Federal de Santa Catarina e também visitante em diversas instituições, inclusive na Espanha, além de pesquisadora do CNPq. E, sim, também uma pessoa muito cordial e acessível.

Sua indicação ajudaria a suprir o déficit de representação feminina no STF, que hoje só tem duas mulheres (que, convenhamos, não fazem lá muita diferença, considerando as decisões proferidas), especialmente pelo conhecido engajamento de Vera de Andrade nas agendas feministas. Mas seu compromisso com a afirmação da cidadania envolve outras lutas e se deu a conhecer em sua valorosa produção científica. Ela traria ventos de humanidade e de busca por igualdade, justamente onde esses ideais são mais necessários.

Vamos brincar de presidente (legítimo!)? Quem seria o seu indicado? Diga o nome e seus motivos para escolhê-lo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Para quem festejou a indicação do Fux, está melhorando.

Yúdice Andrade disse...

Muita gente comemorou a indicação do Fux, mas eu com certeza não, justamente por se tratar de um processualista civil. Mais um.

Anônimo disse...

Um ponto a ser considerado, com os evidentes cuidados, é o fato de que, hoje, o STF tem somente dois ministros vindos da carreira da magistratura. Luis Fux e Rosa Weber. O vigente método de escolha dos ministros do STF permite que as grandes negociatas na bacia das almas. Ou alguém tem dúvidas de que o Presidente(a) de plantão não questiona e/ou negocia quais as posições jurídicas do candidato sobre tal e qual assunto?
Advir da carreira jurídica não é garantia de nada. Veja-se Rosa Weber. Mas despolitizaria um pouco as nomeações.
Acho um absurdo ministros da Suprema Corte aparecerem diuturnamente na mídia, metendo o bedelho em tudo que é assunto. Deveriam manter a discrição e falar somente nos autos.
Quanto ao Teori : apesar de toda a sua aura de honesto, etc, etc, é muito questionável ele ficar se hospedando e usando helicóptero de um "amigo" que tem processos no STF ou que lá chegarão. Custa o cara pagar a sua diária e o seu transporte? Quanto à companhia, nada comento pois era de sua exclusiva conta pessoal.

O que me causa calafrios é que o nome que está em 1º lugar na fila para o STF é o do presidente do TST, Ives Gandra Martins, pessoa ligada umbelicalmente à Opus Dei e defensor de posições absolutamente absurdas em relação ao aborto, gays, casamento homoafetivo, divórcio, etc.
Por questões profissionais tive a oportunidade de estar com ele algumas ocasiões. É de arrepiar. Diz que é celibatário, mora em uma Casa de Padres, etc. Até aí tudo bem.

Mas jamais recebe uma mulher estando sozinho em seu gabinete. Comentam entre os artigos revogados da CLT que não tolera trabalhar com mulher grávida, etc, etc.

A sua nomeação para o Supremo seria uma grande porrada nos direitos fundamentais e individuais dos brasileiros, já que ele repudia tudo nesse sentido. A Bíblia é a sua Constituição. Infelizmente

Kenneth Fleming

Yúdice Andrade disse...

Querido Kenneth, penso que Gandra no STF seria a cereja do bolo, no aspecto jurídico-judiciário, desse governo golpista. Ele representa o que há de pior no país, pois é um ícone do obscurantismo, naturalmente adornado com sua aura de pureza e honestidade, que nem de longe corresponde à realidade. Até acredito que ele não busque benefícios materiais para si mesmo, mas de nada adianta se ele abre as portas para outros. No entanto, como o Brasil já se tornou uma espécie de sociedade distópica de filme, é justamente um sujeito assim que poderia figurar como líder. Quanto pior, melhor. Deus nos livre.